A viagem de Bali a Dili
Depois de inúmeros controlos em
Bali, eis que finalmente aterramos no aeroporto de Dili onde um calor quente e húmido nos recebe
e torna difícil a respiração. Após uma
breve e rápida passagem pela barreira policial, chegou a hora de saber o nome
do local onde irei trabalhar nos próximos meses: Maliana.
Perto da montanha, longe do mar.
Soltam-se gritos de alegria e abraços. Seguem-se
algumas lágrimas entre aqueles que a sorte teimou em separar após breves
momentos de convívio e de descoberta de alguma afinidade.
Eu juntei-me ao grupo de Liquiçá
e foi com ele que passei os dias seguintes numa corrida louca entre o hotel e a
capital na mira de tratar dos assuntos burocráticos (o telemóvel, as fotos, a
internet, o banco, a embaixada…)
O estúdio do fotógrafo é o local
mais fresco do dia e o mais hilariante. Dentro de uma loja de
electrodomésticos, há que efectuar o pré-pagamento a um funcionário que mal percebe o português.
Seguem-se breves momentos de espera onde o cliente tem oportunidade de escolher
a indumentária com que deseja eternizar esse momento. Camisas, gravatas,
casacos, grandes, pequenos, para todos os gostos, espelho, pente e um vestiário
muito discreto numa sala de pouco mais de 9 metros quadrados!
São horas de ir às compras para o
mês. No supermercado, apercebo-me dos
altos preços e da quase inexistente variedade de produtos. Frutas, carne,
peixe, produtos de higiene, etc. parecem estar fora do alcance da maioria dos
cidadãos. Mas sobrevivem.
Que dizer da cidade? O caos do
trânsito, pessoas aos montes para cá e para lá num rodopio constante ou
sentadas à sombra de alguma árvore à beira das estradas sem nada para fazer ou
atrás de um pequeno negócio de venda de água, fruta ou sei lá que mais numa
banca imunda mas necessária numa cidade como esta. Esgotos correm para o mar
que fica logo ali e tornam a água da praia imprópria para banhos. Chove há
alguns dias uma água morna que provoca um sem fim de charcos que os mosquitos
chamarão seu.
A caminho de Maliana
Colocada a carga na pic-up
conduzida com perícia pelo experiente mas ainda jovem Jacinto, são horas de
partir para Maliana. Compras de última hora são colocadas, ou melhor,
amontoadas no espaço livre que ainda existe. Carros, jipes, biscotas,
microletes, ziguezagueam constantemente para fugir aos inúmeros buracos que a
chuva teima em tornar cada vez maiores. Derrocadas e pântanos, bancas e
restaurantes improvisados com uma mão cheia de tábuas que servem de mesas e
bancos, jovens estudantes que num trabalho comunitário fazem limpezas pelas
ruas, crianças sorridentes e felizes tomam banho na água barrenta que escorre
das montanhas, vacas, galinhas, cabras, tudo é possível encontrar ao longo do
percurso. Curiosas as pequenas “fogueiras” existentes à beira da estrada e do
mar para produzir o sal que se consome na região. Curta pausa num “mercado” de
rua para comprar papaias e está na hora de continuar viagem já que a noite se
aproxima a passos largos. Afasto-me da beira-mar rumo à montanha.
Luzes ao longe e … Maliana, está
ai. Pequenas casas cobertas de folhas ao lado de uma muito útil “parabólica” que traz as notícias que os
correios não deixam à porta.
É noite. Já se vê o Hospital, a
Pousada, um edifício público, uma escola, a Casa Episcopal e, logo a seguir, a
casa dos professores.
Suíte com ar condicionado, vista
para a serra num condomínio fechado, segurança 24h por dia, motorista e
empregada doméstica a juntar ao carinho e jantar reconfortante feito pelos
colegas esperam-me. Depois do banho e da cabeça lavada com a água da chuva
recolhida num balde, o sono é o meu melhor amigo. É necessário abrir as malas
para tirar alguma roupa, avisar por sms as pessoas mais queridas antes de
dormir. Que mais poderia desejar num dia como este?
É bom sentir-me em casa!
Amanhã é o meu primeiro contacto
com os alunos timorenses.