Boa noite
Tenho estado um pouco silenciosa porque o trabalho não tem dado descanso mas espero que neste fim de semana tenha um tempinho livre para vos escrever.
Beijinhos
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Boa noite a todos
Aqui de Timor, a 17 000km de casa, recostada na "minha" cama, no "meu" quarto, na "minha" casa a ouvir a chuva que, insistentemente, cai lá fora, quero agradecer a todos o carinho e a atenção com que têm seguido estas crónicas. Descobri que isto funciona como uma terapia e tem sido tão agradável escrever como ler os comentários que têm surgido. Irei continuar a escrever enquanto houver assunto e vontade.
Por vezes, "bate " cá dentro uma saudade ... do país, da casa, da família, dos amigos, da comida, do conforto... mas tenho de aceitar. Fui eu que escolhi. Felizmente, existe a internet e o telemóvel. Daqui a um mês, há as férias da Páscoa e espero sair um pouco. É que com esta chuva, tem sido praticamente só casa-escola-mercado!
Um beijinho a todos e até à próxima.
Aqui de Timor, a 17 000km de casa, recostada na "minha" cama, no "meu" quarto, na "minha" casa a ouvir a chuva que, insistentemente, cai lá fora, quero agradecer a todos o carinho e a atenção com que têm seguido estas crónicas. Descobri que isto funciona como uma terapia e tem sido tão agradável escrever como ler os comentários que têm surgido. Irei continuar a escrever enquanto houver assunto e vontade.
Por vezes, "bate " cá dentro uma saudade ... do país, da casa, da família, dos amigos, da comida, do conforto... mas tenho de aceitar. Fui eu que escolhi. Felizmente, existe a internet e o telemóvel. Daqui a um mês, há as férias da Páscoa e espero sair um pouco. É que com esta chuva, tem sido praticamente só casa-escola-mercado!
Um beijinho a todos e até à próxima.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Quarta-feira de cinzas
É quarta-feira de cinzas e é feriado em Timor. É a única
pausa no período de carnaval que aqui não se comemora.
A missa está marcada para as oito da manhã. A igreja está
apinhada de gente. Gente nas cadeiras, gente nos bancos, gente em cima das
pedras, gente em cima do areão e até gente em cima das madeiras das obras da
igreja. Mais de 1500 pessoas assistem com devoção a uma missa celebrada em
tétum e presidida pelo sr. Bispo.
Admiro aquela gente tão jovem (diria que 80% do total terão menos
de 40 anos) que calça o melhor sapato e veste a sua roupa
domingueira para assistir à missa, roupa essa que me faz voltar atrás no tempo.
Relembro a minha meninice, os vestidos de folhos e os sapatos de verniz para as
meninas, a camisa axadrezada e as calças, agora de ganga, para os meninos, as
lipas (espécie de saias) das senhoras que com os véus na cabeça ainda mantêm a
tradição.
Admiro as 3 enormes filas de pessoas que durante cerca de 45
minutos, ordeiramente, saem do seu lugar para lhes serem impostas as cinzas na
testa.
Admiro as vozes bem ensaiadas de um grande coro que
acompanha a cerimónia de uma ponta à outra entoando cânticos em uníssono como
se de uma só voz se tratasse.
Admiro as crianças que sabem estar numa cerimónia que dura
quase há duas horas mas que é interrompida pelo choro de uma ou outra e pela
irrequietude de uns que logo são admoestados pelos adultos mas que insistem em
passar à frente. São atrevidos e conseguem atingir o seu objectivo.
Por entre a multidão, vislumbro a minha aluna que, ao
ver-me, anuncia a minha presença (uns quantos haveriam de confirmar a notícia
ao virarem-se para trás).
A missa está quase no fim. Já tenho fome.
No regresso, recebo
um sonoro “bom dia professora” vindo de alguém que me identifica. Não sei quem
é.
Mas ele sabe.
Eles sabem que, nesta casa, há professores portugueses.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Fim de semana em Dili
A mala já está pronta. O almoço de piquenique também. Há coisas para fazer em Dili e não há tempo a perder. Temos de chegar antes das 18h.
Depois das aulas, rumamos à capital. O piso da estrada
piorou, pois agora os buracos estão um pouco maiores. Mas, tenhamos esperança
por viagens melhores. Já há alguns troços do percurso que estão a ser alargados
e arranjados. E parece que há um avião por 30 dólares a viagem!!
O dia está radiante. O sol brilha e dá a toda a paisagem uma
tonalidade diferente. O verde parece mais verde, o azul do céu confunde-se com
o azul do mar. Não há uma réstea de vento e aquele azul turquesa das águas
cálidas e calmas do mar de Timor parece chamar-nos para nele mergulhar. Avizinha-se um fim de
semana de descanso. Paragem a meio do percurso, em Maubara, lugar muito
agradável onde um antigo forte foi convertido num simpático restaurante rodeado
de arvoredo e virado para o mar. Descanso e saboreio uma panqueca coberta de compota,
especialidade da casa, ao mesmo tempo que acrescento mais umas fotos ao meu
álbum de recordações. Quase não há tempo para espreitar as pequenas casotas de
venda de lembranças feitas em folhas de palmeira. Fica para o regresso.
Pelo caminho, porcos
chafurdam em charcos lamacentos, cabras escalam saltitantes os montes à procura
de rebentos mais tenros, galos anunciam a sua presença à nossa passagem e até
as vacas parecem mais gordas. Rios vazios de água mas cheios de areia grossa
arrastada pelas enxurradas que quase diariamente, nesta época, assolam o território,
parecem à primeira vista, estradas em obras. No leito seco, apenas se conseguem
ver aqui e ali pequenos charcos de água. Bastará uma tarde de chuva para que a
paisagem se transforme.
Aos poucos, o trânsito aumenta. Aproximamo-nos da capital.
Instalamo-nos. Refrescada pelo merecido banho, são horas de ir jantar ao OMB
onde saboreio uma bela piza embalada pelo som de um trio que muito
agradavelmente nos acompanha nessa noite. A dor de garganta, que já dera sinal
de manhã, acentua-se. Regressamos todos a pé iluminados pela luz das estrelas,
dos focos dos telemóveis e dos poucos carros que circulam. Adormeço, estou
cansada. Há que recuperar forças para o dia seguinte.
De loja em loja, compras aqui e acolá, rapidamente se chega
à hora do almoço.
Uma rápida visita à agência de viagens, à papelaria/livraria
e ao supermercado em frente. Num
frigorífico , vislumbro algo que já não via há quase um mês: iogurtes sólidos
de uma marca portuguesa. Decido ali. O meu almoço desse dia serão 3 iogurtes e
fruta. Na loja ao lado, mais fresca, saboreio 2 deles. Sem colher é um pouco
complicado mas com algum jeito consigo beber/comer 2. Que saudades! Que
saborosos! O outro fica para acompanhar o ananás que irei comprar no mercado.
O calor convida a uma passagem pela praia. Por que não? A
chegada à praia será demorada. Pelo caminho, eu e a minha companheira de
quarto, admiramos a paisagem e registamos tudo o que de mais belo encontramos.
Nesta viagem não vamos sós. Um cão desconhecido acompanhar-nos-á em quase todo
o percurso. Simpático! Se paramos, ele para, se andamos ele anda. Encontramos
pessoas conhecidas: pessoas do grupo que já regressam e outros professores
portugueses que, como nós, resolveram passar por Dili neste fim de semana.
Vemos barcos de pesca à espera que o dia passe, pessoas a
descansar debaixo do arvoredo ou a varrer o terreno em volta da sua casa,
microletes apinhadas de gente e motas num constante vaivém.
E o que dizer das frondosas árvores que crescem dentro de
água salgada?
E aquela mais ali à frente que, aparentemente morta, teima,
resiste e mostra alguns dos seus ramos verdejantes lutando contra o destino.
Chegadas à Praia da Areia Branca (suponho que deve o seu
nome à cor da areia em contraste com a das outras praias por onde passámos), é
hora de dar um mergulho, A sensação é estranha. A água é quente e calma. Está a
cerca de 28 graus Celsius. Não há uma única onda. Ando, ando e a profundidade
da água não se altera. Mais umas fotos. Do leve almoço não resta mais nada. Uns
belos chocos fritos acompanhados de umas saborosas batatas fritas e um sumo de
papaia e laranja para mim e uma cerveja para a minha amiga, servem para
aconchegar o estômago.
Entretanto os nossos companheiros de Maliana estão já de
regresso ao hotel. Alertam-nos para o rápido entardecer. Não faz mal. Podemos
sempre apanhar um dos inúmeros táxis amarelos que passam e apitam chamando a
atenção do turista. Começa a chover. Abrigamo-nos debaixo das árvores. Afinal
passa rápido e resolvemos regressar a pé.
Nessa noite, fico no hotel a descansar.
Domingo: o dia amanhece quente. Uns vão até à praia para
mais um mergulho, outros aproveitam para ocupar a manhã de outra forma. Vou até
ao mercado: fruta, hortaliças, peixe… Há bastante movimento. É preciso dar
atenção ao trânsito (aqui circula-se pela esquerda) e afastarmo-nos para não
sermos salpicados de água suja dos charcos que ainda não secaram.
Todo o grupo se junta. Almoçamos no Hotel Timor onde
encontro outros colegas portugueses que também estão de partida para os seus
distritos. Compro um miminho e recordo Portugal: pastel de nata (2 dólares). São
horas de fazer as compras que não puderam ser feitas antes e fazer o caminho de
volta a Maliana. Os carros vêm carregados. Há bagagem por baixo e por cima dos
bancos. Só resta espaço para nos sentarmos. E a dor de garganta que não alivia.
O anti inflamatório mais parece um placebo. Terei de tomar o antibiótico quando
chegar a casa. Não posso esperar mais. A voz está a desaparecer também e amanhã
tenho de trabalhar.
À 1ª paragem, novamente em Maubara, sucedem-se muitas
outras. Ora para tapar melhor a carga (as nuvens escuras por cima das montanhas
anunciam chuva forte para a noite), ora para comprar combustível, fruta ou
peixe fresco que o motorista dependurará no exterior da parte da frente do mini
bus. Chegamos quase às 9 horas da noite. A viagem foi
cansativa. Arrumamos as compras, tomamos banho e comemos qualquer coisa. Amanhã
é dia de trabalho.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
A sardinhada
Depois da aula de tétum, a passagem pelo mercado já faz
parte do ritual quase diário.
Enquanto os apreciadores de cerveja
se dirigiram ao “nosso” restaurante de
eleição, o célebre Ladueña, outros foram ao mercado e eu fiquei a dormitar no mini-bus.
Sim, porque este calor, dá cá uma moleza!
A surpresa vinha a caminho e, aos
poucos, foi sendo desvendada. Ficámos a saber que ao jantar haveria uma
sardinhada. Sardinhas timorenses! Uau!
Toca a preparar o banquete.
Sal nas ditas,
fogareiro a postos e …. É pá, a lenha está verde e húmida! Não arde! Corrida ao
quarto buscar o secador de cabelo para servir de fole e fazer brasas, mas nada.
Desistimos, não desistimos?
Qual será a solução? Assar as
sardinhas no forno.
O arroz de tomate já está a meio e
as sardinhas vão começar a assar.
As sardinhas já cheiram, mas…
e a salada de tomate e pimento? Aqui há
que fazer um esforço de imaginação. É que não há tomate nem pimento. Paciência!
Sardinhas na mesa. É hora de provar
o petisco. Sabem que nem ginjas! São secas, não deitam nem um pingo de gordura
mas não interessa, São sardinhas e pronto! A lembrar Portugal. Consolamo-nos
pensando que nesta altura em Portugal também elas são secas.
Para sobremesa: pera abacate com
limão e um pouco de açúcar. Estou a adorar!
Louça lavada, cozinha arrumada,
conversa em dia e são horas de descansar. O dia já foi longo demais.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Dader di´ak (bom dia)
Ha´u nia naran Maria de Deus (O meu nome é Maria de Deus)
Ha´u nia tinan lima nolu resin tolu (esta não traduzo, descubram o significado se lerem com atenção o artigo)
O tétum e o português são as duas línguas oficiais de
Timor-Leste ou Timor Lorosae (do sol-nascente).
Há o tétum-praça (tétum-Dili) – mais falado e o tétum-tarik
– o mais antigo.
Mas em todo o país fala-se ainda o indonésio e vários
dialectos. Só em Maliana, há cerca de 6 diferentes.
No dia 28 de janeiro começamos as aulas de tétum com um professor que se desloca à escola de referência de Maliana duas vezes por semana
durante hora e meia. No primeiro dia, não houve propriamente um tema de aula
uma vez que todos tinham algo para perguntar ao professor que, pacientemente,
lá ía dando resposta a todas as nossas dúvidas.
Na segunda aula, juntaram-se ao grupo mais duas irmãs
(freiras) que vêm aprender connosco a melhor comunicar com os
timorenses.
Além dos pronomes pessoais, aprendemos a fazer perguntas
simples mas essenciais.
Eu- Ha´u
Tu- Ó
Você- ita bot
Ele/ela – Nia
Nós – Ami
Vocês /eles/elas – Sira
Ó nia naran saída? – Como te chamas?
Ha´u nia naran Maria de Deus
Ó komprende ka lae? – Tu compreendes ou não?
Depois aprendemos os números:
0-mamuk ou zero
1-ida
2-rua
3-tolu
4-hat
5- lima
|
6- nen
7-hitu
8-ualu
9-sia
10-sanolu
|
||
20- rua nolu
30- tólu nolu
40- hat nolu
50-lima nolu
60-nen nolu
70- hitu nolu
80- ualu nolu
90- sia nolu
100- atus ida
|
200- atus rua
300-atus tólu
400-atus hat
500- atus lima
600- atus nen
700- atus hitu
800- atus ualu
900- atus sai
1000-rihin ida
|
||
E agora já sabem o que significa a frase que não quis
traduzir?
Até aban
Aban loran eskola
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Hoje, último dia de janeiro de 2013, amanheceu como todos os
outros.
O sol brilhava tentando romper por entre algumas nuvens que
se espalhavam pelo céu. Às 8h, o calor do sol já queimava e as nuvens, que aos
poucos se formavam na montanha, já faziam adivinhar o que iria acontecer ao
longo da tarde. Hoje era o meu dia de dar aulas de português aos estagiários.
Após sairmos da escola, fomos almoçar como habitualmente.
Tomada a refeição, mais uma vez o motorista fez o percurso a que já nos habituámos:
TT, mercado, compras, casa, escola. De repente, o céu abre e uma carga de água
começa a cair sobre Maliana e tudo desaparece das ruas: não há animais, não há
pessoas desabrigadas, não há motas. Todos se protegem do temporal que se
avizinha. O nosso motorista bem tenta proporcionar-nos todos os dias uma viagem
agradável mas é inevitável. Desta vez nem dá para ver onde estão os inúmeros
buracos das estradas agora cobertos de água. Aos solavancos dirigimo-nos a casa
para deixar alguns colegas e recolher o material de trabalho para as aulas de
português. Não apetece sair do carro. Chove tanto que qualquer tentativa de
transferência para casa é suficiente para ficarmos encharcados até aos ossos.
Nem as capas de plástico impedem que fiquemos molhados. Troco os sapatos pelos
chinelos a conselho de colegas já vividos nesta experiência. O rio que de manhã
parecia estar calmo mostra agora a sua revolta perante a tempestade e é
imparável. Desce da montanha um grosso caudal de água barrenta, as valetas não aguentam
mais e a água sai do seu leito habitual.
A última parte do nosso percurso é
acompanhada de violenta trovoada. Por cima das nossas cabeças caem relâmpagos e
o som do trovão faz estremecer o que carro que nos transporta. Por mais que se
buzine, ninguém aparece para abrir o portão da escola. Ao fim de algum tempo,
finalmente, lá aparece alguém: descalço (para quê chinelos perante um temporal
destes?) com um guarda-chuva na mão que nada protege. Dirigimo-nos para sala de
aula onde 3 ou 4 pessoas a um canto se protegem do barulho da trovoada. É impossível dar aulas nestas condições. Não há
luz eléctrica, o pátio do recreio está alagado, já não se veem os pneus que as
crianças usam para brincar e a pequena ponte que une dois pavilhões está quase
a ficar coberta de água. Voltamos para trás. Pelo caminho não se vê vivalma.
Curva,
contracurva, solavanco para a direita, solavanco para a esquerda, para cima,
para baixo finalmente chegamos a casa encharcados. Ainda bem que levei os
chinelos pois os sapatos ficariam estragados. Está na hora de tomar um banho,
agora de água quente, e descansar.
Aos poucos, as nuvens começam a afastar-se e o céu vai
clareando. A tempestade afasta-se.
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