quinta-feira, 20 de junho de 2013

O mercado ao sábado em Ataúro

Peixe seco à venda no mercado

A biskota por fora

A biskota por dentro

A casa de banho seca no Barry´s place


O nascer do sol

Ataúro
Parte 2

Volvidos 15 dias, eis que nos preparamos para um novo fim de semana em Ataúro.
Devido a certas circunstâncias a ida para Díli foi feita num jipe alugado. A meio do percurso, ao aproximarmo-nos de uma zona em obras deparámo-nos com um corte de estrada. Nada mais natural! Já não chegavam os buracos, as depressões na estrada, as crateras formadas pelas obras e pela chuva que insistentemente caía, enormes pedregulhos cortavam-na impedindo a circulação em ambos os sentidos! Foi-nos dito que o manobrador da máquina fora a casa comer e dormir a sesta. Não nos restava outra coisa se não esperar que acordasse. Como disse um amigo: hilariante!
As obras na estrada
A fila ia-se formando de um e do outro lado da via. Entretanto, pequenas pedras, transportadas ao ombro, mudavam do lado direito para o lado esquerdo da estrada. Cerca de 45m depois, depois da soneca, os pedregulhos deixaram de ser um empecilho no nosso caminho.
Com imensa paciência, o motorista ia aturando os nossos desabafos. E contou-nos alguns episódios da sua vida: fora um lutador da resistência, assistiu a massacres, inclusivamente de familiares e até nos mostrou um vídeo dos acontecimentos de 2006. Ele próprio tinha marcas das lutas. Mas mantinha um semblante risonho. Perguntámos: Como é possível ter passado por isso tudo e continuar com um ar aparentemente feliz? Limitou-se a sorrir. Gosta de Portugal, é descendente de portugueses e irá para lá estudar. Oxalá consiga atingir os seus objectivos. Pediu que lhe trouxesse uma camisola do…Sporting. Farei o possível. Tem uma de cada um dos mais importantes clubes portugueses.
Chegadas a Díli, compramos pão e bolas de berlim da Padaria Brasão para fazermos uma pequena refeição com alguns dos produtos portugueses a que já nos habituámos.
No dia seguinte, acordámos cedo porque o barco rápido partia às 7h 30m. A agitação do mar e a velocidade do barco fez-me lembrar a minha primeira e última viagem às Berlengas. A maior parte do percurso foi feita sob alguma tensão, sempre com os olhos atentos à água e à espuma provocada pelo deslizamento do barco. Ao aperceber-se do meu receio, o dono (Jens) mandou reduzir um pouco a velocidade. A última terça parte da viagem foi feita de uma forma mais descontraída não só devido à aproximação da ilha mas também devido à companhia das minhas colegas. Disse ao Jens que não viajaria mais com ele! Que preferia a lentidão do Nakroma! E ele ria. Haveria de o encontrar mais vezes no eco-lodge e iria repetir o mesmo.
A vista da varanda da cabine é fantástica.
O quarto devidamente equipado com redes mosquiteiras
Atracamos em Ataúro e somos convidadas a tomar o 2º pequeno almoço do dia enquanto acabam de preparar a “cabine”, como lhe chamam, onde ficaremos alojadas. Trata-se de um eco-resort onde existe a preocupação de manter o equilíbrio entre a natureza e o homem. As casas encontram-se a distâncias ideais de modo a manter a privacidade dos hóspedes. Os caminhos pedonais ladeados por belos canteiros floridos são constantemente visitados por borboletas e outros insectos que procuram neles a sua fonte de alimento. E os arbustos aparentemente  selvagens são o refúgio de algumas aves que fazem o encanto de quem está a tomar as suas refeições, a ler nos vários livros colocados à disposição do cliente ou simplesmente a descansar debaixo da cobertura principal.
Uma "nesga" de paisagem
Devidamente instaladas, apreciamos a beleza da paisagem envolvente mas, o mar, esse continuava agitado, a revolver a areia e a trazer lixo para a praia. 

Com o aumento da intensidade do vento, não era conveniente tomar banho mas pequenos locais de descanso mesmo de frente para a praia serão o local ideal para ler e descansar, sobretudo. Levantar cedo para ver o nascer do sol na praia ou tomar banho depois do pôr do sol foram momentos agradáveis. Houve tempo para usar um par de óculos feito em madeira e com eles mergulhar e ver estrelas do mar. Aos poucos, o meu medo da água vai-se dissipando. Gostei, senti-me à vontade e, quando houver oportunidade, irei repetir a sensação.



                                                                                   Nas noites que lá ficámos havíamos de ser 
O grupo de música tradicional de Ataúro
presenteados por sessões de Karaoke e música tradicional de Ataúro no decorrer de um encontro sobre a mulher trabalhadora.












O jardim














 

A tenda de campismo
No dia previsto para o regresso aconteceu mais uma surpresa: simplesmente, o Nakroma não fez a travessia e nós, que já tínhamos feito o check out, fomos obrigadas a ficar mais um dia mas desta vez numa tenda de campismo para duas pessoas mas onde tiveram de caber 3.
É que o dinheiro também estava a escassear. Houve necessidade de arranjar alternativa ao transporte do ferry recorrendo a um dos barcos rápidos. O regresso a casa far-se-ia na biskota alugada por esse grupo de mulheres que, por coincidência do destino, se dirigiam precisamente para Maliana.
 Andar de biskota é uma experiência única. Viaja-se num transporte que leva cerca de 25 pessoas com as portas e janelas abertas para que o ar circule (não há maus cheiros, até porque há desodorizantes de ambiente dependurados aos pares), com o estreito corredor cheio de bens transportados da capital.
Pára-se inúmeras vezes. Para deixar entrar ou sair passageiros, para colocar mais um ou dois sacos de arroz, para comprar o sal e o peixe que fazem falta e que se coloca no tejadilho da mesma, para almoçar num local de restaurantes improvisados, etc.
O pior foi o que aconteceu a seguir. Nunca fico mal disposta em viagem, não era suposto vomitar mas, o inevitável aconteceu. De Batugadé até casa foi um contínuo de má disposição e vómitos. Já não havia mais nada para deitar fora e viagem nunca mais acabava.
Chego a casa, estafada e coberta do pó que entrou durante todo o percurso.
Quero agradecer a  amabilidade do grupo de mulheres de Maliana, na pessoa da Argentina, que prontamente se disponibilizou a dar-nos boleia numa biskota com todos os lugares esgotados. Ao longo da viagem, não fomos “malae” (estrangeiras)  mas sim “manas” (senhoras). Obrigada


domingo, 9 de junho de 2013


Em Ataúro

Ataúro é uma ilha de origem vulcânica situada a norte de Díli entre as ilhas Indonésias de Alor e Wetar. Politicamente, é um subdistrito de Díli. Apresenta aproximadamente 25 km de extensão por 9 km de largura.


Um lanche ajantarado em Díli, saboreando produtos portugueses
A uma distância de 25 km, a viagem pode levar entre 1h 30m e 3h dependendo do barco escolhido e da bolsa de cada um. Quanto mais rápido, mais caro mas isso não quer dizer que quanto mais rápido, mais confortável.

 Tanto na época colonial portuguesa como durante a ocupação indonésia, Ataúro era o local para onde se enviavam os presos quer fossem políticos quer não. O isolamento preservou-a da destruição provocada pela saída dos indonésios.








Ataúro

 Parte 1

Um fim de semana prolongado foi o pretexto para passar um fim de semana em Ataúro. Como a viagem é longa, não é possível chegar a tempo de comprar os bilhetes (2$USD para timorenses e 5$USD para os estrangeiros) para o Nakroma (ferry que faz a travessia). No dia seguinte, após o pequeno almoço, há que ir até ao porto de embarque a fim de apanhar o barco. Avista-se um mar de gente que, por acaso, pensou como nós.

Mas…, e bilhete para a passagem? Nada que não se resolva. Depois de uma troca de palavras “Queremos 3 bilhetes”,  “Não há!”,  “Tem a certeza que não há?” “Não, não há!”, “De certeza?”, “Então, entrem!” (um aperto de mão ao segurança e somos encaminhadas para a entrada)

Depois de subirmos até à parte superior há que procurar um espaço livre, estender uma lipa que servirá para repousar durante uma viagem de 3 horas de mar bastante calmo, para tirar fotos e conversar com colegas portugueses de outras escolas. Díli vai ficando para trás e Ataúro aproxima-se. Não se avistam golfinhos como nos dizem que pode acontecer.

Chegados à ilha, e após o desembarque, somos transportados num tuk-tuk (mota com um atrelado e que transporta até 5 pessoas, bem juntinhas) até ao local onde iremos pernoitar! Água de côco para começar e almoço a seguir. De tarde, uma ida à praia a 50 m dali. Praia quase deserta, de água morna, límpida e quase sem ondas. De vez em quando, surgem grupos de mulheres com os típicos cestos às costas.

Apetece ficar dentro de água. Apetece só sair quando a pele começa a ficar enrugada. Apetece relaxar no mar de Timor. Só não apetece ver alguém que, no meio do lixo de copos, garrafas, cocos e detritos de árvores, ainda consegue encontrar vários pares de chinelos de borracha abandonados mas que ainda irão ter muito uso.
 
 

A praia
 
 
 
O lixo que "insiste" em ficar na praia
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E…vitória! Pé ante pé, um pouco a medo, vou deixando que a água me envolva. Atrevo-me a boiar de costas, o que não é difícil devido à calmaria daquelas águas e ao seu grau de salinidade. Atrevo-me a molhar a cabeça e aos poucos a sensação de medo que a água me provoca começa a desaparecer e ouso mergulhar. Magnífico! A confiança aumenta e começo a relaxar! Sinto que vamos dar-nos bem. Talvez um dia sejamos amigas!

A noite aproxima-se e o jantar também. Comemos cedo. Não há nada para fazer a não ser descansar e conversar com outras colegas portuguesas. Aprendemos bastante sobre a história política recente de Timor.

É preciso ir para a cama, preparar a rede mosquiteira e dormir. É importante ter a lanterna à mão porque o gerador é desligado à meia-noite e pode ser necessário. Em Ataúro ainda não há luz eléctrica. Ou se utilizam geradores, ou energia solar. Durante a noite, “juro” que não é um sonho, “juro” que senti uma “coisa” fria a passar por cima do meu pé. Aos gritos, acordo as minhas colegas que, prontamente se levantam para me acudirem depois de se desenvencilharem da rede mosquiteira. Parece não ser nada. Terá sido uma teka (osga)? Dizem-me que isso é pouco provável. Terá sido sugestão minha no seguimento da conversa tida umas horas atrás?! Ficará para sempre a questão.
 
O local onde dormimos
A cozinha


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O dia seguinte amanhece chuvoso. Não apetece sair. Ao pequeno almoço, pedimos ovos dos quais desistimos porque tardam em chegar. Haveremos de os saborear à hora do jantar desse dia. Almoçámos no Barry´s Place e apreciamos o belo empreendimento turístico. Fazemos reserva para dali a 15 dias. Às 5 horas estamos de regresso, após uns belos mergulhos naquela água quentinha. Passamos pelas bancas vazias do mercado e aproveitamos para meter conversa com umas jovens que estudam para um teste de inglês. Jovens lindas, sorridentes, mas não sabem uma palavra de português. Parece que ali também faz falta uma Escola de Referência onde se possa aprender a nossa língua. Recomeça a chover, é sinal de que a trovoada se aproxima.

Jantar e deitar cedo, acordar antes do amanhecer e apanhar o barco da Jenny às 6h 30m da manhã. Viagem agradável e calma. Ao desembarcarmos, damos de caras com um grupo de 3 macacos que vivem nas árvores junto ao cais e que se “divertem” a roubar a comida das gentes que por ali se sentam a descansar. Nas ruas, há algumas comemorações relacionadas com a festa da “Restauração da Independência”. A padaria portuguesa encontra-se fechada. Uma ida até ao centro comercial servirá para tomarmos o pequeno almoço e fazer as compras. Resta-nos conversar e esperar pelo regresso a Maliana. Ataúro é uma ilha linda com bom potencial para o turista que quer descansar uns dias. Só é pena que não haja uma maior preocupação em manter as praias sem lixo. Resta-me desejar que não demore muito.