domingo, 28 de julho de 2013


Memo e Saburai

A ida a Memo e a Saburai , perto da fronteira com a Indonésia, é feita por estradas de terra batida de difícil circulação  e em que o ondulado do piso obriga a solavancos constantes. Está em obras, obras essas feitas com recurso a pouca maquinaria e a muito trabalho braçal  pago a 6 dólares o dia. O calor misturado com o pó provocado pela passagem do carro não são suficientemente impeditivos para cumprimentarem quem passa. E a obra vai avançando também com a ajuda de mulheres e até de crianças, de tenra idade, mas que já são capazes de segurar na colher da massa.

Aquela ribeira de água cristalina que se atravessa, a imponência da montanha. Somos minúsculos perante esta grandiosidade.

Apetece ficar e saborear o que a natureza nos oferece.

 Apetece ouvir o murmurar da água que corre, o som do vento na folhagem das árvores que parecem brotar das rochas e as abraçam com as suas raízes. Os troncos que se confundem com o negro da pedra.

A paisagem é deslumbrante. Uma imensa planície rodeada de montanhas.

Do outro lado do rio, a Indonésia. E ainda outro e mais outro lá ao longe.

 E as crianças, vestidas, despidas, calçadas, descalças surgem de todo o lado. Umas tímidas, outras mais afoitas pedindo fotos e oferecendo cumprimentos. Umas nas escolas, outras a caminho delas. São às dezenas por aqueles caminhos fora.

São locais de difícil acesso agravados durante a época das chuvas pelas torrentes de água que escorrem lá do alto. Imagino o isolamento destas gentes que, por falta de meios, se obrigam a caminhar durante 4h a pé para se deslocarem à cidade mais próxima. Ou então optam pela languna (meio de transporte equivalente a um camião, com 4 rodas) contra o pagamento de uma quantia para nós irrisória.

A luz eléctrica ainda não chegou mas no topo de cada uma das casas há uma ou duas placas fotovoltaicas oferecidas pelo governo. Veem-se algumas casas bonitas feitas de pedra da zona mas que o gosto ou a falta de meios estragou ao colocarem folhas de zinco a tapar as janelas que acabam por perder sua utilidade por nelas não passar a não ser uma nesga de luz.

De que vivem não sei. No caminho não se vê qualquer horta de onde possam tirar o sustento. Dizem-me que sim, que há hortas lá em baixo. Alguns porcos, vacas e cabras deambulam por ali e fogem assustadas à nossa passagem.

Sinto-me mal, sinto uma angústia na alma porque me sou uma privilegiada. Tenho transporte, tenho casa condigna, tenho muito mais do que esta gente tem para viver.

No caminho de regresso haveríamos de dar boleia a pessoas que vinham para Maliana. Deixá-las-íamos em Memo e elas iriam continuar o seu percurso a pé. Parámos para cumprimentar as Irmãs (freiras), admirar a sua obra junto da população e ver as futuras instalações da missão.

 Na estrada poeirenta, encontraremos muitos jovens que regressam a suas casas depois de uma manhã de aulas em Maliana. Não é fácil a vida destas pessoas.









 Timor tem potencialidades mas só se desenvolverá quando com uma boa rede de vias de comunicação que encurte distâncias, saneamento básico e melhores condições de habitabilidade. Tudo isto leva tempo mas, afinal de contas, Timor é apenas uma criança de 11 anos.

sexta-feira, 26 de julho de 2013


O entardecer

É o sol

É a brisa

A luz difusa

O vento que agita.


 É o esconde-esconde da luz que ilumina o dia.

É o céu salpicado de nuvens coloridas.


 É o branco
É o cinzento,
O amarelo, o azul e o verde

É a cor da vida.

Do dia.


É o som da bola
A voz das crianças

É o chilrear dos pássaros

É a melodia.

 

É o fresco da noite

É o fim do dia

É o entardecer no horizonte

É a melancolia.

 

São os dias que terminam.

São os meses que nunca acabam

E as saudades que não morrem.

 

É isso e muito mais.

 

É a nostalgia

É a magia

do fim do dia.

 

                            Eu mesma, às 18h 30m do dia 27-7-2013



 

quinta-feira, 25 de julho de 2013


Algum humor em frases que vi e/ou   ouvi:

-Mais vale faltar ao emprego do que chegar atrasado.

-O homem timorense precisa de ter muitas namoradas para poder escolher com qual delas vai casar.

- Se és polígamo morres. Se não és polígamo morres também. Mais vale seres polígamo antes que morras.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ida ao rio


Ida ao rio

Não há muito para fazer nos tempos livres do fim de semana. Em Maliana, não convém sair à noite, pois as ruas não são iluminadas (apenas existe a luz das lâmpadas das próprias casas – a luz eléctrica existe há menos de um ano), não há um café que se possa frequentar ou um jardim onde se possa relaxar um pouco. Então, enquanto estamos em casa, lemos (e tenho lido bastante), vamos ao mercado,  costuramos se for necessário, cozinhamos, conversamos, fazemos exercícios de ginástica, temos sessões de cinema, etc. Quando o tempo é propício a isso (sem excesso de calor ou de chuva) podemos dar alguns pequenos passeios. Foi o que ontem fizemos. Para mim, foi a primeira vez. Fomos ao rio (ou como quem diz à ribeira porque dada a pouca extensão dos cursos de água que aqui existem, devem ser denominados ribeiras e não rios). Já o tinha visto no Google mas não presencialmente. É um curso de água que vem da 5ª montanha mais alta de Timor-Leste – o Loelaco. Serpenteando, derrubando margens, arrastando enormes pedras, desbravando caminho para, rapidamente, chegar à planície onde as águas finalmente se tornam mais calmas ao encontrarem espaço livre num leito forrado de pequenas pedras que se foram soltando, rolando e torneando.
Pedras arrastadas pela força da água

A ponte pedonal que precisa de reparação
Depois de descer a rua e virarmos à esquerda, entramos nos campos verdejantes onde aqui e ali algumas vacas se alimentam calmamente. Logo depois há uma ponte, por cima de um rio mais pequeno, a precisar urgentemente de reparação, por baixo da qual foi construído o canal que transporta a água roubada ao rio para servir a população de Maliana. Água ligeiramente cinzento-esverdeada talvez devido às águas sulfurosas das termas de Marobo, uns quilómetros mais acima (estas águas, que usamos no banho, quando aquecidas emanam um cheiro a enxofre). Será que são boas para a pele? Pode ser. Mas notamos que aqui a roupa se gasta mais do que habitualmente. E o vento? Nesta época, sopra bastante mas há muito menos humidade. O assobio do vento, o som abafado das árvores mais esguias, o estalar das velhas folhas das palmeiras  juntam-se ao barulho das águas revoltas para criarem a música que nos acompanha em todo o percurso.
Crianças a transportar lenha
O rio

Pelo caminho, algumas crianças transportam lenha à cabeça, lenha essa que irá servir de combustível para cozinhar e, para além do cumprimento habitual “botarde”, não se inibem de pedir “one dólar” a cada um de nós. Têm pouca sorte. Ninguém leva dinheiro. Só óculos, água, máquina fotográfica e toalha para depois do banho. Acompanhando o canal, eis que surgem as comportas que desviam a água do rio (já reparámos que quando chove, a água deixa de correr no canal para logo regressar quando ela deixa de cair) e, logo a seguir, é necessário atravessá-lo. Não é difícil, pois, nesta altura o caudal é bastante reduzido. É preciso sim ter algum cuidado para não escorregar. Ultrapassada esta etapa, chegamos à zona onde uns meses atrás existiam campos mas que a água arrastou consigo. Tomar banho, não tomar banho. Uns decidem que sim, outros que não. Eu só molho os pés. Aqui a água é um pouco mais fria mas nada que iniba quem é mais afoito e que acaba por se besuntar com a lama que por ali há na esperança dos seus benefícios para a pele. Um pouco de sol e de conversa e é necessário regressar a casa.


O gondoeiro
Agora anoitece cedo. Por volta das 6h 30m escurece. Viemos por outro caminho, igualmente agradável onde é possível encontrar algumas casas de habitação tradicionais, de zinco e até de pedra onde não faltam crianças pequenas. Alcançamos a estrada que já teve melhores dias, viramos à esquerda e ganhamos força para a subida que todos os dias fazemos mas em quatro rodas. Chegamos a casa, um banho e são horas de preparar o jantar. Hoje não é o meu dia de cozinhar.


O convívio saudável entre espécies diferentes
 

 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Algumas fotos da viagem

Algumas fotos da viagem...

O gigante da aviação (A 380)

Uma viagem de 12 horas e 30min.

O aeroporto de Singapura. Um luxo!

sábado, 6 de julho de 2013

As férias

As férias

É bom descansar

É bom voltar

É bom surpreender os outros

É bom abraçar

É bom encontrar as pessoas queridas

Mas é necessário retornar

A viagem de regresso a Portugal não podia deixar de ter algo para contar. O atraso verificado no avião que partiu da Indonésia originou um episódio que vos quero contar. À chegada a Singapura, já estava um grupo de funcionários à nossa espera para nos levarem ao terminal de partida para Frankfurt. Chamados à pressa, rapidamente nos instalaram num carro que percorreu os imensos corredores “alcatifados” do aeroporto, por entre lojas de luxo. Ultrapassadas todas as formalidades relacionadas com os controles rigorosos das pessoas e da bagagem de mão (o check-in já tinha sido feito pelo pessoal do aeroporto), entramos num A380, um verdadeiro monstro da aviação.

Com esta pressa toda, suspeitámos logo que algo iria correr mal. E assim foi. Ao chegar a Lisboa, verificámos que a bagagem tinha ficado em Singapura onde deveria ter transitado para o novo avião. Feita a devida reclamação, só teria sido entregue ao 3º dia da minha permanência em território português.

Feitas as visitas indispensáveis, umas idas até à praia, uns almoços e jantares de pratos que há 6 meses não saboreava, eis que são horas de regressar. A viagem de volta é mais longa. É imprescindível pernoitar em Bali por causa das condicionantes de Dili (os aviões não aterram à noite). No dia seguinte, mais um voo e uma viagem na biskota até aqui. Esperavam-me os meus meninos a quem ofereci uma corda para saltarem nos intervalos.

Ficaram muito felizes e todos os dias é a mesma pergunta :

“professora, posso emprestar corda?”

“ quem responde “posso” sou eu. Tu deves dizer “pode””

“professora, pode emprestar a corda?”

“assim está bem. Posso.”

(raio do verbo que é difícil de conjugar…)

Tenho outras pequenas lembranças para lhes dar.

Gosto muito deles. Têm um óptimo comportamento. Os alunos portugueses deveriam aprender com eles o significado das palavras “amizade” e “respeito”.

São uns amores.

Choraram muito no último dia do período passado e, por mais que lhes dissesse que voltaria, as lágrimas não paravam de correr por aquelas faces lindas.

Vou ter saudades e irei recordá-los para sempre com muito carinho.