Memo e Saburai
A ida a Memo e a Saburai , perto
da fronteira com a Indonésia, é feita por estradas de terra batida de difícil
circulação e em que o ondulado do piso
obriga a solavancos constantes. Está em obras, obras essas feitas com recurso a
pouca maquinaria e a muito trabalho braçal pago a 6 dólares o dia. O calor misturado com
o pó provocado pela passagem do carro não são suficientemente impeditivos para
cumprimentarem quem passa. E a obra vai avançando também com a ajuda de mulheres
e até de crianças, de tenra idade, mas que já são capazes de segurar na colher
da massa.
Aquela ribeira de água cristalina
que se atravessa, a imponência da montanha. Somos minúsculos perante esta
grandiosidade.
Apetece ficar e saborear o que a
natureza nos oferece.
Apetece ouvir o murmurar da água que corre, o
som do vento na folhagem das árvores que parecem brotar das rochas e as abraçam
com as suas raízes. Os troncos que se confundem com o negro da pedra.
A paisagem é deslumbrante. Uma
imensa planície rodeada de montanhas.
Do outro lado do rio, a Indonésia.
E ainda outro e mais outro lá ao longe.
E as crianças, vestidas, despidas, calçadas,
descalças surgem de todo o lado. Umas tímidas, outras mais afoitas pedindo
fotos e oferecendo cumprimentos. Umas nas escolas, outras a caminho delas. São
às dezenas por aqueles caminhos fora.
São locais de difícil acesso
agravados durante a época das chuvas pelas torrentes de água que escorrem lá do
alto. Imagino o isolamento destas gentes que, por falta de meios, se obrigam a caminhar
durante 4h a pé para se deslocarem à cidade mais próxima. Ou então optam pela
languna (meio de transporte equivalente a um camião, com 4 rodas) contra o
pagamento de uma quantia para nós irrisória.
A luz eléctrica ainda não chegou
mas no topo de cada uma das casas há uma ou duas placas fotovoltaicas
oferecidas pelo governo. Veem-se algumas casas bonitas feitas de pedra da zona mas
que o gosto ou a falta de meios estragou ao colocarem folhas de zinco a tapar
as janelas que acabam por perder sua utilidade por nelas não passar a não ser
uma nesga de luz.
De que vivem não sei. No caminho
não se vê qualquer horta de onde possam tirar o sustento. Dizem-me que sim, que
há hortas lá em baixo. Alguns porcos, vacas e cabras deambulam por ali e fogem
assustadas à nossa passagem.
Sinto-me mal, sinto uma angústia
na alma porque me sou uma privilegiada. Tenho transporte, tenho casa condigna,
tenho muito mais do que esta gente tem para viver.
No caminho de regresso haveríamos
de dar boleia a pessoas que vinham para Maliana. Deixá-las-íamos em Memo e elas
iriam continuar o seu percurso a pé. Parámos para cumprimentar as Irmãs
(freiras), admirar a sua obra junto da população e ver as futuras instalações
da missão.
Na estrada poeirenta, encontraremos muitos
jovens que regressam a suas casas depois de uma manhã de aulas em Maliana. Não
é fácil a vida destas pessoas.