sábado, 12 de outubro de 2013


 

 Última crónica 

Está a chegar ao fim a minha permanência em território de Timor-Leste. Tratou-se essencialmente de uma experiência profissional.
Valeu a pena conhecer outro país com características tão diferentes do nosso. Há coisas boas e coisas más como em todo o lado.
Valeu a pena conhecer outros profissionais deste sector.
Valeu a pena arranjar novos amigos.
Valeu a pena partilhar conhecimentos, trocar impressões.
Valeu a pena conhecer as minhas crianças que ainda estão tão longe dos vícios do mundo ocidental mas também das coisas boas que ele nos proporciona.
Valeu a pena conhecer o seu sorriso doce e a alegria dos seus rostos.
Valeu a pena conhecer o respeito que tanto alunos como população em geral têm pelo professor.
Valeu a pena ter vindo.
Vale sempre a pena. A vida é feita disto: de dádiva, de partilha, de sonhos, de desilusões.

 Da minha parte, este blog será encerrado hoje.
Ele serviu para partilhar informações e formas de sentir.

Não tenho jeito para escrever. Fiz o melhor que pude. Espero que tenha sido útil também.

Até sempre

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Penúltimo texto


Penúltimo texto

O dia do fim da minha permanência em Timor está a chegar.

O que leva as pessoas a vir para um país tão longínquo?

Na minha perspectiva, serão várias razões:

Uma nova experiência profissional

Enriquecimento do currículo

Adquirir tempo de serviço

Partilhar experiências

Ganhar mais dinheiro

Afastar-se dos problemas

Resolver os problemas

Poder viajar

Fugir ao quotidiano

Fugir do frio

Ajudar os outros

 

A população de Maliana é muito simpática, dócil  e aceita muito bem a presença de professores portugueses porque sabem que estão aqui para os ajudarem.

Contudo, há muitas carências. Não é fácil viver em Timor, principalmente longe da capital e do centro das decisões. Sente-se falta de muita coisa: conforto, alimentos a que estamos habituados, liberdade de movimentos, saneamento, etc.

Apesar de todos os problemas que afetam o nosso país, são horas de regressar. As saudades são muitas.

 

Portugal é lindo.

 

 

 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

As bodas de prata do D. Norberto do Amaral


As bodas de prata do D. Norberto do Amaral






O bispo da diocese D. Norberto do Amaral, comemorou as suas bodas de prata no passado dia 18 de Setembro de 2013.

Trata-se de uma personalidade muito respeitada em todo o país e aquele acontecimento serviu de pretexto para que a cidade de Maliana se preparasse para os festejos. Uns dias antes, já era possível ver a azáfama da população preocupada em enfeitar as duas ruas principais e ainda a que liga à sede episcopal e à sua residência, quase ao lado do “nosso modesto condomínio fechado”. De uma forma muito simples, a população cortou pedaços dos troncos das bananeiras e com folhas de palmeira e flores de buganvílias fizeram pequenos enfeites que colocaram ao longo das ruas. Entretanto, o recinto das comemorações, situado no local da futura catedral do Sagrado Coração de Jesus de Maliana ia sendo arranjado.

Na terça feira de tarde, vi pela primeira vez em Maliana um engarrafamento  de biskotas e angunas carregadas de pessoas das localidades do distrito que se dirigiam para as escolas timorenses onde iriam pernoitar.

Entre os muitos convidados também estivemos nós, professores portugueses.

Na quarta feira de manhã, ao aproximarmo-nos do recinto das festas, o trânsito aumentava tendo assistido ao 2º engarrafamento da história da minha presença em Timor.

Aos poucos, a população ia-se distribuindo pelos toldos colocados para protecção do sol tórrido de um dia que se adivinhava muito quente. Pessoas simples com o seu traje domingueiro, pessoas vestidas com roupas tradicionais, representantes  das autoridades nacionais,  do governo e da igreja. Crianças, velhos, todos queriam assistir a mais uma missa presidida pelo Sr. Bispo.

As belíssimas vozes de um coro de estudantes acompanharam a cerimónia do princípio ao fim apenas interrompida pelos discursos da praxe, de algumas danças tradicionais e do lançamento de balões.

No fim,  houve almoço ao qual não assisti devido ao cansaço de mais de 3 horas de cerimónias e do imenso calor. Ficam as imagens de um dia cheio de vida em Maliana.


PS. Parece que no dia seguinte havia pessoas doentes por causa da comida. Muito calor!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013


 
O funeral

A morte de qualquer pessoa acarreta muitas despesas uma vez que é necessário alimentar todas as pessoas que assistem ao velório, ao funeral e a todas as cerimónias que se seguirão. Para isso, precisam de matar búfalos, vacas ou porcos. Caso não haja muitas possibilidades, a família e os “convidados” colaboram também.

Em Maliana, um velório pode demorar dois a três dias. Entretanto, entregam-se os agradecimentos às pessoas presentes e convidam-nas para assistirem às cerimónias do 7º dia em que vão ao cemitério depositar flores.

Ao 40º dia, volta-se a ir ao cemitério e, ao fim de um ano, faz-se o desluto com uma festa onde se come, bebe e dança. Por morte de familiares mais próximos (pais, avós, tios ou irmãos, por ex., a mulher irá usar durante 3 meses uma fita que colocará no pulso ou durante 6 meses um lenço na cabeça ou roupa preta durante um ano. Estas peças terão de ser queimadas no cemitério.

Em Baucau, o velório pode durar entre 24 a 72h mas, em alguns locais mais remotos, o falecido pode estar em casa até duas a três semanas até chegarem os familiares que estão mais distantes. São usadas plantas para evitar os maus cheiros entretanto provocados.

A mulher coloca na cabeça um pequeno lenço preto que usa durante um ano. Os filhos e o cônjuge colocam uma fita de tecido preto no pescoço e nos pulsos.

Ao fim da primeira semana (ai funan moruk), as pessoas vão ao cemitério e colocam flores e velas na campa do morto e quem tem as fitas pretas, retiram um fio da fita do pulso esquerdo e colocam-na em cima da campa.

Ao fim da segunda semana (ai funan midar), levam novamente flores ao cemitério e colocam velas também nas campas dos familiares e conhecidos já falecidos. Retiram a fita do pulso direito e colocam-na na campa.

Ao fim da terceira semana, (ai funan fahemalu) levam mais flores e velas para distribuir por outras campas. Retiram a fita do pulso esquerdo.

Três meses depois, a família leva mais flores e velas e reza. Nesta altura, a restante família que usava a fita preta ao pescoço, retira-a.

Seis meses depois, a família acompanhada dos vizinhos vai novamente ao cemitério levar flores, velas e rezar.

Um ano depois, faz-se o korremetan, ou seja, o desluto onde se faz uma grande festa, se come e se dança.

Se entretanto, morrer outra pessoa da família, interrompe-se o luto da anterior colocando as fitas pretas num oratório que todas as pessoas têm em casa.

Ter filhos, casar e morrer são acontecimentos que suportam ainda um conjunto de tradições com bastante peso na vida dos timorenses.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013


O casamento

O namoro pode ser às escondidas mas, a certa altura, há necessidade de o rapaz comunicar aos pais o interesse em casar, enumerando as qualidades da futura noiva. Então, as famílias encontram-se na casa da família dela para se conhecerem e poderem emitir uma opinião sobre o possível casamento. Se houver algo que impeça a união dos dois e se o impedimento for da namorada, não há necessidade de indemnizar a outra parte. Mas se for do namorado ou da sua família, então “fecha-se a porta”, ou “puxa-se a cortina” isto é, há que calar a voz do povo, a boca dos outros. Os pais do namorado têm de compensar a outra parte e, para tal, deverão entregar-lhe várias coisas: um búfalo ou uma vaca ou, ainda, uma ”lua”, ou seja, um “belak” que consiste num círculo de ouro com uns desenhos embutidos ao gosto do ourives, com 10 cm ou mais de diâmetro e que pode variar entre os 300 e os 500 dólares. Após isto, cada um pode procurar outro parceiro para casar.

Se não houver nada que impeça os dois de casarem, começa-se a preparar toda a cerimónia. Ao ir a casa da noiva, o noivo é acompanhado pelos pais e por uma pessoa mais culta e mais velha que conheça bem as tradições (os irmãos também podem acompanhar o noivo se assim o entenderem). Devem levar uma série de produtos: 2 molhos de betel ou vetel (planta usada para mascar) (0,50 USD cada), 4 cordas de arreca (fruto de uma palmeira que cresce em climas tropicais) (0,50 USD cada), 2 embalagens de cal (0,10 USD cada) produtos para mascar), 1 embalagem com 20 maços de tabaco, 1 caixa de cerveja, sprite ou coca-cola e 1 envelope com 50 ou 100 dólares, dependendo da possibilidade de cada um. Todas estas quantidades têm de ser em número par, nunca em número ímpar. 

Chegados a casa da noiva, estendem a esteira no chão, colocam nela os produtos atrás referidos e combinam a data do casamento e da troca de prendas. Os pais da noiva têm de dar à outra parte um pano tradicional de Timor, “ um tais” e ficam encarregados de oferecer a refeição deste encontro. O período que se seguirá até ao dia da cerimónia do casamento deverá ser o mais curto possível para evitar “tentações”, não vá a noiva ficar grávida. Fica então combinado o dia da troca de prendas no qual o noivo terá de dar à família da noiva entre 3 a 5 búfalos e 3 luas ou 25 000 dólares em dinheiro.

Se tiverem poucas posses, os membros da família reúnem-se e ajudam-se mutuamente.

Depois da troca de prendas, o noivo deve dar à noiva, um fio, uma pulseira, um anel e um par de brincos em ouro. A noiva dar-lhe-á uns tais e um anel.

É o noivo que oferece à noiva tudo o que ela vai usar no dia do casamento: vestido, véu, luvas, touca, leque e sapatos. A noiva deverá presenteá-lo com a roupa que ele irá usar: casaco, camisa, calças e sapatos. Contudo, isto depende da possibilidade dos noivos.

Após o casamento, ficam a viver em casa dos pais do noivo até terem possibilidade de arranjarem uma casa para viverem mas também para os compensarem de todas as despesas que o casamento lhes trouxe. Assim, a nora terá de contribuir com o seu trabalho e ajudar os sogros nas tarefas do dia a dia durante um a dois anos.

Os noivos têm apenas dois padrinhos (um homem e uma mulher) que podem dar ou não prendas. Se não derem prendas, eles deverão oferecer o bolo de noiva (bolo queque) constituído por um bolo com vários “andares” e champanhe para fazer o brinde (assisti a um casamento onde verifiquei que o champanhe foi mantido à temperatura ambiente para antes da refeição ser agitado e molharem os convidados mais próximos). Caso os padrinhos não deem bolo, terão de ser os pais da noiva a providenciarem um.

No momento do banquete, os convidados, sentados próximos da mesa, levantam-se e dirigem-se em fila para a mesa servindo-se com os pratos que houver. Os noivos, pais e padrinhos são os últimos a comer porque o melhor deve ser oferecido aos convidados.

Os convidados deverão oferecer aos noivos artigos para a decoração da sua futura casa. Atualmente, também se pode dar um envelope com dinheiro.

Em Baucau

Em algumas zonas do distrito de Baucau, no dia em que o noivo e respetiva família vão a casa da noiva, combinam logo o que aquele deve dar à outra parte (búfalos-500 USD/cada e cavalos-200 USD/cada).

As despesas efetuadas na cerimónia do casamento são divididas entre as duas famílias. À família da noiva cabe levar os porcos e o arroz que for consumido.

A escolha dos convidados é livre mas, normalmente, inicia-se pela família, vizinhos e amigos.

 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013


Nascer, casar e morrer em Timor

Timor continua a manter e a preservar um conjunto de rituais que fazem parte da sua cultura e permitem identificá-lo como um país rico em tradições que aos olhos de um ocidental podem parecer estranhas. Para um mesmo acontecimento, os costumes podem variar de distrito para distrito.
Aqui irei falar de algumas, que me foram relatadas por quem as viveu e continua a viver.

O nascimento

Em Maliana, o ato de ter um filho não estava isento de riscos de vida tanto para o bebé como para a mãe. Hoje em dia, o Hospital de Referência de Maliana veio alterar um pouco os hábitos e garantir maior assistência no acompanhamento à grávida, mas também ao recém nascido. Contudo, ainda há pessoas que mantêm o costume de ter o seu bebé em casa com a ajuda, não de uma parteira, mas de uma pessoa quer seja familiar ou não, mas que é “conhecedora” dos procedimentos a ter nesta situação.

Quer seja feito em casa quer seja feito no hospital, os rituais a seguir ao parto continuam a ser os mesmos que os seus antepassados já faziam e têm como objetivo manter não só a tradição mas também assegurar a saúde, o bem estar da parturiente e o futuro do bebé.

Logo que possível, após o parto a placenta é entregue ao indivíduo do sexo masculino mais velho da família que a coloca dentro de uma lata (do tipo das latas de biscoitos) ou no interior de um pau de bambu. Na madrugada do dia seguinte ao parto, ou durante o dia se ele tiver ocorrido de manhã mas nunca durante a noite (para não assustar nem trazer tentações à criança), a pessoa encarregada desta tarefa terá de vestir a sua roupa tradicional (o tais), levar ao ombro o recipiente com a placenta e afastar-se da localidade, por causa do mau cheiro ou para evitar que os animais possam comê-la para o dependurar numa “hali”, uma árvore frondosa e grande, com o auxílio de uma corda. É possível usar as concavidades naturais da própria árvore para aí depositar a placenta. Nenhuma pessoa jovem o poderá fazer, uma vez que a localização da árvore permanece no segredo dos mais velhos. Contudo, é possível encontrar a árvore carregada de latas ou bambus com placentas, quando se viaja pela floresta. Não se trata de uma árvore para cada família mas sim de uma árvore para uma comunidade. O tempo e a natureza irão fazer com que o recipiente e o seu conteúdo se degradem.

Há também a possibilidade de a placenta ser enterrada perto de casa mas próximo de uma nascente ou de um tanque de água doce.

Tal como a água e a árvore são símbolos da vida, assim este ato tem como objetivo pedir vida, alegria, meiguice e inteligência para essa criança.

Após o nascimento, a criança é lavada com água morna e, quando cair o cordão umbilical, ele será guardado num cestinho, numa caixinha, num guarda joias ou numa caixa de mascar até ele desaparecer, ou seja, ”se perder de vista”.

Em relação à jovem mãe, há que seguir mais uma vez as tradições. Ela toma banho com água quente e, durante uma semana, não pode sair do quarto nem lavar a cabeça (na região de Baucau, antigamente, a mulher não podia lavar a cabeça nos 40 dias seguintes, para evitar que o sangue subisse à cabeça). Se o parto tiver sido natural, diariamente e durante um mês, usa uma fralda de bebé molhada em água quente para com ela carregar na barriga e senta-se num banco revestido com outra fralda molhada. Este trabalho tem como objetivo desinfetar e expulsar qualquer resíduo do parto e permitir recuperar a silhueta. Em todo este trabalho, é ajudada por outra mulher.

Em Baucau, a placenta é colocada num pequeno balde, coberta de cinza fria e dependurada na árvore de que a família mais gosta. Pode ser transportada ou não pelo pai da criança acompanhado do avô ou outro homem disponível mais próximo da família. Durante o percurso deve fazer-se silêncio absoluto.

Ao contrário do que se passa em Maliana, aqui, o cordão umbilical é colocado numa palmeira, que fica para sempre identificada como sendo a palmeira daquela pessoa e que nunca poderá ser cortada.

domingo, 25 de agosto de 2013


Timor é um país que ainda precisa de crescer muito em termos de desenvolvimento. Por vezes, aquilo que se escreve leva a que as pessoas pensem que tudo aqui corre sobre rodas. Não é bem assim. Há muitos problemas, têm surgido muitas incertezas, falhas no cumprimento de muitas obrigações,  pois aquilo que se diz num dia, no dia seguinte ou até no próprio não é verdade.
A TT (Timor Telecom) é uma empresa de telecomunicações que presta um serviço pouco eficaz. Começo por dizer que uma reclamação, levou meses a ser analisada e só o foi depois de reclamar segunda vez. O serviço de internet deixa muito a desejar  com  a ligação a cair imensas vezes, frequentemente mais de 20 vezes em apenas uma hora.

O contrato de adesão a um serviço, por ex, de 30 dias, termina exatamente na hora e no minuto em que perfaz os 30 dias, nem mais nem menos e se ainda houver plafond do período anterior, ele perde-se não acumulando para o período seguinte (parecem querer dizer: tivesse gasto tudo durante o período em vigor). Neste caso, a TT ganha porque recebeu o dinheiro relativo ao plafond existente e vai receber outra vez quando se fizer novo contrato. Como o tempo de duração de um contrato não termina às 24h do dia em que caduca mas  na hora e minuto em que perfaz o período, a TT ganha outra vez porque o cliente não pode assinar um contrato de prestação de serviços para começar às 00 horas. Quanto muito, para aproveitar ao máximo, o cliente terá de ir à loja à hora do fecho da mesma para adquirir novo serviço.

Relativamente a um contrato de um mesmo produto, é suposto que ele tenha as mesmas características independentemente da loja da mesma operadora em que ele é subscrito. Pois aqui, pode não ser bem assim. O mesmo se passa em relação às informações que são dadas num e noutro local.


Eficiência e responsabilidade no trabalho: parece que quanto menos se fizer, melhor. Qualquer arranjo leva imenso tempo a ser executado para além do preço que, em alguns casos, é proibitivo.
Saneamento básico: Não existe. Há o sistema de fossas ou não há nada. Não há água potável. O serviço municipal das águas só se responsabiliza pelas roturas que ocorrem até 6 metros depois da saída do depósito. Há muito desperdício de água e os canos são facilmente estragados por se encontrarem à superfície e, muitas vezes, em plena estrada onde circulam os veículos.
Em Maliana, não existe serviço de recolha de lixo. Cada família queima o que produz ou abandona-o em qualquer sítio que tanto pode ser ali ao lado como pode simplesmente deitá-lo no rio e que mais tarde há de chegar ao mar.
É permitido enterrar os mortos ao lado da casa de habitação que por sua vez tem ali um poço onde se abastecem de água.
O lixo na praia apenas muda de lugar: da areia à beira da água para a areia um pouco mais atrás.

Higiene: vacas ou búfalos abatidos e esfolados na rua, no chão, sendo  a carne  vendida ao ar livre, ao sol, ao pó... O mesmo se passa em relação ao peixe. (não são de admirar casos sistemáticos de diarreias).

Vias de comunicação: muito más tanto dentro da cidade como fora dela e os trabalhos  de reparação ou não se veem ou são executados muito lentamente.

Energia: postos de combustível à beira das estradas com a gasolina a ser vendida em garrafas de 1,5l. Desperdício de energia elétrica: grande parte das pessoas tem as lâmpadas ligadas dia e noite. Por enquanto, em Maliana ainda não é cobrada. Falta iluminação noturna.

 Salários em atraso: Desde que aqui estou, só houve dois meses pagos a tempo e horas.
Polícia: raramente se vê pelas ruas mas vejo-a todos os dias de manhã em parada. É proibido andar de mota sem capacete mas é possível ver 4, 5,ou 6 pessoas numa mota só.

Fazer um depósito bancário custa $1,95 e o seu levantamento $0,55.


 

 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Timor
Localização
Timor-Leste fica situado na parte oriental da ilha de Timor mais o enclave de Oécussi que fica na parte ocidental pertencente à Indonésia. Possui ainda a ilha de Ataúro, que faz parte integrante do distrito de Díli, e o ilhéu de Jaco no extremo leste.
Em termos geográficos, situa-se na Ásia próximo do território australiano, da Indonésia e da Papua-Nova Guiné. Está rodeada, a norte pelo Mar das Flores e a sul pelo Mar de Timor.
Está dividido em 13 distritos, que se subdividem em 65 sub-distritos e estes em 442 sucos
Línguas
Antes da chegada dos portugueses já teria sido estabelecido o tétum-térik devido à necessidade de um instrumento de comunicação. Com a sua presença, foram introduzidos novos vocábulos portugueses e malaios dando origem a um “novo tétum” – o tétum praça. Embora haja uma grande diversidade de dialectos (mais de 16), o tétum é o mais falado pela população.
O Tétum e o Português são as únicas línguas oficiais enquanto as línguas de trabalho são o inglês e o malaio (Bahasa).
Religiões
Cerca de 97% da população é católica sendo que os restantes 3% pertencem aos protestantes/evangélicos, muçulmanos, budistas, hindus, animistas, etc.
Lenda
Diz a lenda que Timor ter-se-ia formado a partir do corpo de um crocodilo (lafahek) que depois de ser ajudado por um menino, resolveu comê-lo quando tinha fome. Instado pelos seus amigos a poupar quem lhe tinha salvo a vida, resolveu ir passear pelo mar com o menino às costas. Quando parou para descansar, transformou-se em pedra e em terra e cresceu tanto que ficou do tamanho da ilha em forma de crocodilo.
Símbolos nacionais
Os símbolos e as cores da bandeira nacional  estão relacionados com a sua História.
Amarelo- rastos do colonialismo
Preto-obscurantismo que é necessário vencer
Vermelho – luta pela libertação
Branco – paz
Geologia
A ilha de Timor surge na zona de subducção entre a placa australiana e a euro asiática muito próxima. As rochas mais antigas têm mais de 286 milhões de anos formadas por micaxistos, gnaisses, anfibolitos e filitos. Outras formações rochosas mais recentes são constituídas por calcários, xistos argilosos e grés quartzíticos. Timor é consequência de grandes acidentes tectónicos que deram origem a dobras, falhas e carreamentos. A ilha de Ataúro, de origem vulcânica, possui basaltos, andesitos, riólitos e tufos cobertos por rochas calcárias coralíferas.
Devido à sua situação geográfica, Timor é uma ilha sujeita a desastres naturais. Estes devem-se não só à proximidade de zonas de vulcanismo ativo, que provocam sismos, tsunamis, escorregamentos, mas também está sujeita a inundações provocadas por chuvas torrenciais com grande força destruidora. Para além disso, a população não tem meios para fazer face a esses acidentes o que agrava as suas condições de vida pela destruição de pessoas e bens incluindo a área agrícola.
Relevo
O centro do país é muito montanhoso e vai suavizando à medida que nos afastamos para Leste.
A maior elevação é o Monte Ramelau com 2 960 metros de altitude, seguido do Monte Matebian (Matabia)  de 2 370m, Cablaque com 2 340m, Merique com 2 100 me Loelaco  com cerca de 2 000m, monte que avisto todos os dias, quase sempre coberto por espessas nuvens. Esta zona montanhosa divide o país ao meio com características diferentes em termos de orografia. Tanto se podem verificar declives muito acentuados da ordem dos 80%, originados pela grande erosão hídrica consequência da forte precipitação, como declives suaves, com maiores linhas de água e grandes planícies aluviais.
Hidrografia
Devido ao tipo de relevo e de solo, à intensidade das chuvas tropicais, que provocam grandes inundações e deslizamentos das vertentes montanhosas e à pequena dimensão de Timor-Leste, o nível de erosão é muito elevado.
A rede hidrográfica é constituída por ribeiras, algumas das quais com um caudal tão reduzido que desaparecem durante a época seca. O curso de água com maior bacia hidrográfica, com uma extensão de 80km, é a ribeira de Lacló que nasce em Aileu e desagua em Manatuto.
Existem ainda algumas zonas de águas quentes sulfurosas (be manas), antigamente utilizadas para fins terapêuticos, como por exemplo, as termas de Marobo, distrito de Bobonaro.
Clima
De uma maneira geral, possui um clima tropical caracterizado por duas estações: a estação das chuvas, de outubro a março influenciado pela monção asiática e nos restantes meses pela monção australiana. A estação das chuvas caracteriza-se pelo elevado nível de pluviosidade, variável de região para região, temperatura e humidade altas e uma amplitude térmica bastante baixa na ordem dos 2 a 4 graus.
Na estação seca, o tempo é mais fresco e seco com ventos fortes provenientes do território australiano.
Em termos de grandes espaços naturais, Timor está dividido em 4 zonas:
-        Costa sul –  de clima quente e húmido,  com duas estações de chuva possibilitando 2 colheitas por ano em terrenos muito férteis para a produção de cereais.
-        Extremo leste – de clima quente e muito húmido. É a zona mais húmida do país com 2 estações de chuva.
-        Interior montanhoso – com alturas superiores a 1000m é a zona mais fria de Timor e apresenta uma precipitação muito elevada. Os terrenos são propícios à produção de café.
-        Costa norte – de clima quente e seco, com uma estação de chuva e uma estação seca. Os solos são pouco férteis exceto nas zonas próximas dos cursos de água.
Recursos naturais
Os solos do território escondem recursos minerais, em quantidade variável, de ouro, cobre, manganês e carvão, mas também xistos, mármores e calcários e petróleo em grande quantidade no Mar de Timor (uma das 20 maiores jazidas de petróleo do mundo).

Divisão administrativa do país
Administrativamente, Timor está dividido em 13 distritos: Aileu, Ainaro, Baucau, Bobonaro, Covalima, Dili, Ermera, Lautem, Liquiça, Manatuto, Manufahi, Oecusse, Viqueque. Estes distritos dividem-se, por sua vez, em subdistritos num total de 65 e estes ainda em 442 sucos (menor divisão administrativa).
População
Segundo o Census de 2010, Timor-Leste tinha 1 066 409 pessoas. No séc. XX, houve sempre uma tendência crescente da população timorense à exceção dos períodos relacionados com a invasão nipónica durante a II Guerra Mundial, com a invasão indonésia e com os problemas que se seguiram ao referendo de 1999.
Em média, a densidade populacional é de cerca de 79 h/km. De uma forma geral, as regiões com maior densidade são as principais cidades, com destaque para Díli, e as zonas montanhosas e de menor densidade são as áreas mais planas e de menor altitude. Os distritos mais próximos da fronteira, Bobonaro e Covalima, são aqueles que sofreram maior decréscimo de população.
Nos anos imediatamente anteriores ao referendo, Díli perdeu mais de 10 000 habitantes e durante os conflitos de 1999 abandonaram a capital cerca de 80 000 pessoas. Contudo, com a administração das Nações Unidas, a população subiu para 165 mil habitantes, devido à segurança social e económica que a cidade representava. Com a estabilidade do país, a população começou, novamente, a abandonar a capital e a regressar às suas terras.
Os movimentos migratórios recentes vividos em Timor deveram-se, sobretudo, aos acontecimentos relacionados com a independência e a invasão indonésia em 1975. Muitas pessoas emigraram para Portugal e para a Austrália e, durante a ocupação indonésia, os jovens eram estimulados a deslocarem-se para outras regiões da Indonésia no sentido de continuarem os seus estudos. Por outro lado, eram criados colonatos agrícolas com a vinda de muitos indonésios principalmente para as zonas da costa sul e da foz da ribeira de Loes, aliviando, desta forma, a elevada densidade populacional das ilhas de Java e de Bali. O referendo de 1999, que deu origem a violentos conflitos, obrigou a população a refugiar-se nas montanhas ou a deslocar-se para a parte ocidental da ilha de Timor em busca de segurança. Com a estabilização do país, um grande número de pessoas regressou mas nem sempre para as suas zonas de origem.
É um país jovem e com muita população jovem também. A esperança média de vida, em 2000, rondava os 47 anos de idade.
Faixa etária
0-14 anos
15-64 anos
+ 65 anos
% de pessoas
41,4%
53,9%
4,7%
                                                 Dados do Censos de 2010
Os aspectos climáticos, a morfologia do terreno, a riqueza do solo, as formas tradicionais de agregação ou de ordem histórica são responsáveis pela distribuição desigual da população.
A aglomeração da população, na época colonial, verificava-se em torno dos campos de cultivo permitindo a dispersão da população por todo o território. Havia limites bem definidos e a mesma comunidade estruturava-se à volta da “Casa Sagrada” e “Árvore da vida”. A invasão indonésia provocou o desmembramento forçado das comunidades desenraizando as pessoas da sua ligação à terra e, consequentemente, das estruturas tradicionais.
Tanto se podem encontrar povoamentos junto às vias de comunicação como junto de cursos de água, dispersos ou concentrados.
A habitação
A habitação tradicional é diferente de região para região mas mantem traços comuns. É sustentada por pilares afastados do solo para se protegerem das inundações e dos ataques dos animais. Utilizam-se materiais de origem vegetal tal como a madeira, o colmo ou o bambu. Devido às características do clima, estas construções são feitas durante a época seca. Muitas das habitações não tradicionais usam o tijolo ou bloco de cimento e telhado de zinco.
Espaço urbano
Díli é a capital e é a cidade mais densamente povoada. É a que tem mais infra-estruturas  (aeroporto, hospitais, escolas) e serviços e a que pode proporcionar maior oferta de emprego. É onde se localizam algumas representações de empresas e de organismos internacionais. Segue-se Baucau e Maliana.
Condições de habitabilidade
Os conflitos que se seguiram ao referendo de 1999, destruíram enormemente o país, nomeadamente a rede de telecomunicações existente. Após esse período, apenas existia uma rede de comunicações militares. Atualmente, existem várias empresas de telecomunicações que prestam um serviço ainda com bastantes falhas. A rede eléctrica também ficou seriamente destruída - 10% das linhas de média tensão ficou danificada assim como a terça parte das ligações da rede às aldeias.
O abastecimento de água e saneamento básico ainda é muito precário. As pessoas utilizam a água da rede pública de distribuição, sem qualquer tratamento ou recorrem a poços, muitas vezes próximos de cemitérios ou de fossas. Em alguns locais da montanha, a água é recolhida e armazenada em depósitos individuais feitos de zinco ou de barro. As águas residuais são despejadas directamente em valas abertas que as transportam para os cursos de água ou são usadas fossas sépticas. Os resíduos sólidos urbanos são queimados, com todas as consequências que isso acarreta, e não há qualquer tipo de deposição selectiva e muito menos de reciclagem.
Atividades económicas
Segundo dados de 1999, a população de Timor está distribuída da seguinte forma pelos diversos sectores de actividade:
-sector primário (84%)
-sector secundário (3%)
-sector terciário (13%)
Após o referendo de 1999, a maior parte das estruturas do comércio, da indústria e dos serviços foi desactivada, obrigando a população a (sobre)viver da agricultura. Mais de metade dos produtos cultivados é para consumo próprio, à excepção do café (dados de 2001) sendo que, no caso do arroz, do milho e da mandioca, a percentagem chega aos 80%. Em regiões com maior incidência das chuvas é possível a colheita de 3 ciclos de arroz.
Em 1970, o consumo de carne era extremamente baixo – 5kg/ano por habitante. Com a invasão da indonésia, esse valor baixou para os 2,5kg/ano. Com o incremento da pesca, o regime alimentar dos timorenses melhorou substancialmente. A criação de gado sofreu um grande decréscimo a que se juntou um surto de doenças em 2000. Não há em Timor tradição de aproveitamento do leite para o fabrico de lacticínios, o que faz encarecer estes produtos que têm de ser importados.
A floresta de Timor tem características da Ásia e da Oceânia. Abundam várias espécies de eucaliptos, de acordo com a altitude, o gondão (Ficus indica), o tamarindo, pouco sândalo devido à exploração desenfreada tanto  por parte dos portugueses como dos chineses, malaios e indonésios. Acresce ainda o facto de terem sido provocados incêndios para facilitar a rendição da população, que eliminou parte do coberto vegetal trazendo graves consequências para a capacidade de retenção da água no solo, facilitando as escorrências, as inundações e a erosão. De uma maneira geral, predomina o mato, a savana e a floresta secundária nas encostas sob a qual se cultiva o café e as hortas. A floresta primária, natural e mais densa, existe nas zonas mais altas e com menor intervenção humana, associada a climas frescos e húmidos. Nas zonas de águas calmas do norte do território, existem áreas de mangais que possuem as raízes e os troncos submersos em água do mar. Em certas zonas do país, é importante a exploração de madeira de teca, para uso na marcenaria. Os coqueiros desempenham um papel importante na construção de habitações.
Embora haja uma grande variedade de espécies piscícolas, a pesca tem um peso muito reduzido na actividade da população. Com a invasão da Indonésia, houve um incremento da pesca mas os métodos e equipamentos utilizados eram muito básicos. Abundam moluscos, peixes, répteis, crustáceos e mamíferos. O consumo de peixe não tem tradição em Timor, principalmente no interior, pelo que se consome peixe seco. Os pescadores usams beiros, pequenas embarcações escavadas em troncos equilibradas por flutuadores e pescam com a ajuda de rede, anzóis, arpões e camaroeiros. A falta de exploração do mar contribui para a manutenção dos ecossistemas marinhos
Tem muito pouca expressão a actividade industrial do país. O fabrico manual de tais, panos artesanais, transformação de madeiras em carpintarias, extracção de sal por processos muito artesanais, etc. Há falta de profissionais qualificados e de uma rede viária e de transporte capaz. As leis existentes limitam o investimento estrangeiro.
Em relação ao turismo, há algumas boas unidades hoteleiras na capital mas de pouquíssima qualidade no resto do país. É um país com potencial para o turismo privilegiando o mar, a montanha e as águas termais. Contudo, é necessário criar infra-estruturas que suportem a vinda de turistas a Timor.
No séc XVII e seguinte, a igreja assegurava o acesso da população ao ensino. Só a partir de 1915, Portugal se começou a preocupar com este problema. Com a ocupação indonésia surgiram alguns equipamentos escolares. Os conflitos após o referendo, deixaram o país com muitos estabelecimentos de ensino destruídos, restaurados posteriormente com o apoio dos organismos internacionais. Atualmente, existem muitos estabelecimentos escolares, onde é ministrado um ensino com pouca qualidade e em que o rácio professor 7 aluno é muito elevado (em 2000-2001, o rácio era de 47 alunos por professor), com poucos recursos materiais. Embora o português e o tétum sejam as duas línguas oficiais, cada professor dá as suas aulas na língua que domina, embora os testes tenham de ser feitos em português.
É apenas em 1918 que Portugal resolve criar serviços de saúde mas só na década de 60 houve um maior investimento nesta área. A invasão indonésia não trouxe melhorias significativas. Os hospitais públicos existentes não têm as condições de salubridade mínimas. A falta de profissionais qualificados é suprida com o recurso a apoios de outros países, nomeadamente Cuba. Em 2001, existiam 211 unidades de saúde, tanto públicas como privadas.
As vias de comunicação nunca foram muito desenvolvidas limitando o parque automóvel existente. Durante a ocupação indonésia, as estradas foram asfaltadas e o número de veículos aumentou consideravelmente. Atualmente, as estradas estão em muito mau estado, sendo que algumas delas se encontram em obras, obrigando a deslocações demoradas e muito difíceis. É possível a deslocação de pessoas e bens em biskotas (autocarros entre Dili e as restantes cidades, mikroletes (autocarros mais pequenos que circulam dentro da cidade) e angunas (camiões que tanto transportam pessoas como mercadorias). Dado o mau estado de conservação das estradas, a velocidade média é muito baixa. O táxi é um meio de transporte muito utilizado em Díli.
O comércio internacional
É um país muito dependente do exterior com uma balança comercial muito deficitária. No séc. XIX, Timor exportava produtos alimentares para a Austrália. Hoje em dia, as actividades económicas estão pouco desenvolvidas, os níveis de produtividade são baixos e mesmo na agricultura não são auto-suficientes. Vários factores justificam a baixa produtividade na agricultura: condições climáticas que favorecem a erosão dos solos, exploração intensiva, má gestão dos recursos, queimadas, etc. A instabilidade vivida nos últimos anos provocaram também situações complexas de registo de propriedade dos bens.

Informação baseada no livro “Atlas de Timor Leste”
 da Faculdade de Arquitetura

 Universidade Técnica de Lisboa

domingo, 28 de julho de 2013


Memo e Saburai

A ida a Memo e a Saburai , perto da fronteira com a Indonésia, é feita por estradas de terra batida de difícil circulação  e em que o ondulado do piso obriga a solavancos constantes. Está em obras, obras essas feitas com recurso a pouca maquinaria e a muito trabalho braçal  pago a 6 dólares o dia. O calor misturado com o pó provocado pela passagem do carro não são suficientemente impeditivos para cumprimentarem quem passa. E a obra vai avançando também com a ajuda de mulheres e até de crianças, de tenra idade, mas que já são capazes de segurar na colher da massa.

Aquela ribeira de água cristalina que se atravessa, a imponência da montanha. Somos minúsculos perante esta grandiosidade.

Apetece ficar e saborear o que a natureza nos oferece.

 Apetece ouvir o murmurar da água que corre, o som do vento na folhagem das árvores que parecem brotar das rochas e as abraçam com as suas raízes. Os troncos que se confundem com o negro da pedra.

A paisagem é deslumbrante. Uma imensa planície rodeada de montanhas.

Do outro lado do rio, a Indonésia. E ainda outro e mais outro lá ao longe.

 E as crianças, vestidas, despidas, calçadas, descalças surgem de todo o lado. Umas tímidas, outras mais afoitas pedindo fotos e oferecendo cumprimentos. Umas nas escolas, outras a caminho delas. São às dezenas por aqueles caminhos fora.

São locais de difícil acesso agravados durante a época das chuvas pelas torrentes de água que escorrem lá do alto. Imagino o isolamento destas gentes que, por falta de meios, se obrigam a caminhar durante 4h a pé para se deslocarem à cidade mais próxima. Ou então optam pela languna (meio de transporte equivalente a um camião, com 4 rodas) contra o pagamento de uma quantia para nós irrisória.

A luz eléctrica ainda não chegou mas no topo de cada uma das casas há uma ou duas placas fotovoltaicas oferecidas pelo governo. Veem-se algumas casas bonitas feitas de pedra da zona mas que o gosto ou a falta de meios estragou ao colocarem folhas de zinco a tapar as janelas que acabam por perder sua utilidade por nelas não passar a não ser uma nesga de luz.

De que vivem não sei. No caminho não se vê qualquer horta de onde possam tirar o sustento. Dizem-me que sim, que há hortas lá em baixo. Alguns porcos, vacas e cabras deambulam por ali e fogem assustadas à nossa passagem.

Sinto-me mal, sinto uma angústia na alma porque me sou uma privilegiada. Tenho transporte, tenho casa condigna, tenho muito mais do que esta gente tem para viver.

No caminho de regresso haveríamos de dar boleia a pessoas que vinham para Maliana. Deixá-las-íamos em Memo e elas iriam continuar o seu percurso a pé. Parámos para cumprimentar as Irmãs (freiras), admirar a sua obra junto da população e ver as futuras instalações da missão.

 Na estrada poeirenta, encontraremos muitos jovens que regressam a suas casas depois de uma manhã de aulas em Maliana. Não é fácil a vida destas pessoas.









 Timor tem potencialidades mas só se desenvolverá quando com uma boa rede de vias de comunicação que encurte distâncias, saneamento básico e melhores condições de habitabilidade. Tudo isto leva tempo mas, afinal de contas, Timor é apenas uma criança de 11 anos.

sexta-feira, 26 de julho de 2013


O entardecer

É o sol

É a brisa

A luz difusa

O vento que agita.


 É o esconde-esconde da luz que ilumina o dia.

É o céu salpicado de nuvens coloridas.


 É o branco
É o cinzento,
O amarelo, o azul e o verde

É a cor da vida.

Do dia.


É o som da bola
A voz das crianças

É o chilrear dos pássaros

É a melodia.

 

É o fresco da noite

É o fim do dia

É o entardecer no horizonte

É a melancolia.

 

São os dias que terminam.

São os meses que nunca acabam

E as saudades que não morrem.

 

É isso e muito mais.

 

É a nostalgia

É a magia

do fim do dia.

 

                            Eu mesma, às 18h 30m do dia 27-7-2013



 

quinta-feira, 25 de julho de 2013


Algum humor em frases que vi e/ou   ouvi:

-Mais vale faltar ao emprego do que chegar atrasado.

-O homem timorense precisa de ter muitas namoradas para poder escolher com qual delas vai casar.

- Se és polígamo morres. Se não és polígamo morres também. Mais vale seres polígamo antes que morras.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ida ao rio


Ida ao rio

Não há muito para fazer nos tempos livres do fim de semana. Em Maliana, não convém sair à noite, pois as ruas não são iluminadas (apenas existe a luz das lâmpadas das próprias casas – a luz eléctrica existe há menos de um ano), não há um café que se possa frequentar ou um jardim onde se possa relaxar um pouco. Então, enquanto estamos em casa, lemos (e tenho lido bastante), vamos ao mercado,  costuramos se for necessário, cozinhamos, conversamos, fazemos exercícios de ginástica, temos sessões de cinema, etc. Quando o tempo é propício a isso (sem excesso de calor ou de chuva) podemos dar alguns pequenos passeios. Foi o que ontem fizemos. Para mim, foi a primeira vez. Fomos ao rio (ou como quem diz à ribeira porque dada a pouca extensão dos cursos de água que aqui existem, devem ser denominados ribeiras e não rios). Já o tinha visto no Google mas não presencialmente. É um curso de água que vem da 5ª montanha mais alta de Timor-Leste – o Loelaco. Serpenteando, derrubando margens, arrastando enormes pedras, desbravando caminho para, rapidamente, chegar à planície onde as águas finalmente se tornam mais calmas ao encontrarem espaço livre num leito forrado de pequenas pedras que se foram soltando, rolando e torneando.
Pedras arrastadas pela força da água

A ponte pedonal que precisa de reparação
Depois de descer a rua e virarmos à esquerda, entramos nos campos verdejantes onde aqui e ali algumas vacas se alimentam calmamente. Logo depois há uma ponte, por cima de um rio mais pequeno, a precisar urgentemente de reparação, por baixo da qual foi construído o canal que transporta a água roubada ao rio para servir a população de Maliana. Água ligeiramente cinzento-esverdeada talvez devido às águas sulfurosas das termas de Marobo, uns quilómetros mais acima (estas águas, que usamos no banho, quando aquecidas emanam um cheiro a enxofre). Será que são boas para a pele? Pode ser. Mas notamos que aqui a roupa se gasta mais do que habitualmente. E o vento? Nesta época, sopra bastante mas há muito menos humidade. O assobio do vento, o som abafado das árvores mais esguias, o estalar das velhas folhas das palmeiras  juntam-se ao barulho das águas revoltas para criarem a música que nos acompanha em todo o percurso.
Crianças a transportar lenha
O rio

Pelo caminho, algumas crianças transportam lenha à cabeça, lenha essa que irá servir de combustível para cozinhar e, para além do cumprimento habitual “botarde”, não se inibem de pedir “one dólar” a cada um de nós. Têm pouca sorte. Ninguém leva dinheiro. Só óculos, água, máquina fotográfica e toalha para depois do banho. Acompanhando o canal, eis que surgem as comportas que desviam a água do rio (já reparámos que quando chove, a água deixa de correr no canal para logo regressar quando ela deixa de cair) e, logo a seguir, é necessário atravessá-lo. Não é difícil, pois, nesta altura o caudal é bastante reduzido. É preciso sim ter algum cuidado para não escorregar. Ultrapassada esta etapa, chegamos à zona onde uns meses atrás existiam campos mas que a água arrastou consigo. Tomar banho, não tomar banho. Uns decidem que sim, outros que não. Eu só molho os pés. Aqui a água é um pouco mais fria mas nada que iniba quem é mais afoito e que acaba por se besuntar com a lama que por ali há na esperança dos seus benefícios para a pele. Um pouco de sol e de conversa e é necessário regressar a casa.


O gondoeiro
Agora anoitece cedo. Por volta das 6h 30m escurece. Viemos por outro caminho, igualmente agradável onde é possível encontrar algumas casas de habitação tradicionais, de zinco e até de pedra onde não faltam crianças pequenas. Alcançamos a estrada que já teve melhores dias, viramos à esquerda e ganhamos força para a subida que todos os dias fazemos mas em quatro rodas. Chegamos a casa, um banho e são horas de preparar o jantar. Hoje não é o meu dia de cozinhar.


O convívio saudável entre espécies diferentes
 

 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Algumas fotos da viagem

Algumas fotos da viagem...

O gigante da aviação (A 380)

Uma viagem de 12 horas e 30min.

O aeroporto de Singapura. Um luxo!

sábado, 6 de julho de 2013

As férias

As férias

É bom descansar

É bom voltar

É bom surpreender os outros

É bom abraçar

É bom encontrar as pessoas queridas

Mas é necessário retornar

A viagem de regresso a Portugal não podia deixar de ter algo para contar. O atraso verificado no avião que partiu da Indonésia originou um episódio que vos quero contar. À chegada a Singapura, já estava um grupo de funcionários à nossa espera para nos levarem ao terminal de partida para Frankfurt. Chamados à pressa, rapidamente nos instalaram num carro que percorreu os imensos corredores “alcatifados” do aeroporto, por entre lojas de luxo. Ultrapassadas todas as formalidades relacionadas com os controles rigorosos das pessoas e da bagagem de mão (o check-in já tinha sido feito pelo pessoal do aeroporto), entramos num A380, um verdadeiro monstro da aviação.

Com esta pressa toda, suspeitámos logo que algo iria correr mal. E assim foi. Ao chegar a Lisboa, verificámos que a bagagem tinha ficado em Singapura onde deveria ter transitado para o novo avião. Feita a devida reclamação, só teria sido entregue ao 3º dia da minha permanência em território português.

Feitas as visitas indispensáveis, umas idas até à praia, uns almoços e jantares de pratos que há 6 meses não saboreava, eis que são horas de regressar. A viagem de volta é mais longa. É imprescindível pernoitar em Bali por causa das condicionantes de Dili (os aviões não aterram à noite). No dia seguinte, mais um voo e uma viagem na biskota até aqui. Esperavam-me os meus meninos a quem ofereci uma corda para saltarem nos intervalos.

Ficaram muito felizes e todos os dias é a mesma pergunta :

“professora, posso emprestar corda?”

“ quem responde “posso” sou eu. Tu deves dizer “pode””

“professora, pode emprestar a corda?”

“assim está bem. Posso.”

(raio do verbo que é difícil de conjugar…)

Tenho outras pequenas lembranças para lhes dar.

Gosto muito deles. Têm um óptimo comportamento. Os alunos portugueses deveriam aprender com eles o significado das palavras “amizade” e “respeito”.

São uns amores.

Choraram muito no último dia do período passado e, por mais que lhes dissesse que voltaria, as lágrimas não paravam de correr por aquelas faces lindas.

Vou ter saudades e irei recordá-los para sempre com muito carinho.