Os arrozais
Maliana é a terceira cidade de Timor-Leste, capital do
distrito de Bobonaro, (um dos 13 distritos
administrativos) e com uma população de 25 234 habitantes segundo o Censos de 2010 (em 6 anos teve um crescimento
superior a 3000 habitantes).
Fica localizada na
parte ocidental do país, junto à fronteira com a Indonésia a cerca de 150 Km da
capital, Díli.
Rodeada de montanhas,
os picos mais altos estão permanentemente cobertos por espessas nuvens que
anunciam a chuva que alimenta as nascentes das várias ribeiras das quais
depende a actividade agrícola da população (arrozais e hortas). É na água dos
canais que serpenteiam a cidade que as pessoas lavam a roupa, se refrescam e
onde inúmeras crianças tomam banho ou aprendem a nadar. É também esta água que
serve para abastecer os pequenos lagos de patos e nenúfares.
A elevada
pluviosidade dá ao distrito de Bobonaro o segundo lugar na produção de arroz e
o quarto na produção de vegetais. Com tanta água estagnada, não podemos
esquecer o problema dos mosquitos e das doenças a eles associados (malária e
dengue, principalmente).
Quando aqui cheguei, a plantação do arroz estava na fase
inicial. No início de fevereiro, procede-se à sementeira do arroz em
tabuleiros, onde permanece durante 25 dias, aproximadamente, até ter uma altura
capaz de ser transplantado. No final do mês, os pés de arroz são plantados
manualmente na terra alagada, trabalho executado essencialmente por mulheres e
crianças de 11 ou 12 anos por serem mais rápidas e ágeis. Este trabalho é pago
a 5 dólares por dia para os adultos e 3 dólares para as crianças que fazem esta
tarefa após a escola. Durante cerca de 90 dias, o cereal cresce tendo apenas
água e alguns pesticidas para combater pragas. Aos poucos, o verde uniforme do
arroz em crescimento dá lugar a outros tons de verde e amarelo conforme o
estádio de crescimento e maturação em que se encontra. Este ano, a colheita do
arroz encontra-se ameaçada pelo excesso de chuva. Desde que esteja seco,
procede-se à ceifa manual do cereal (25
pessoas ceifam cerca de 1ha de terreno numa
jornada diária que começa às 6 h da manhã e pode terminar às 18h). Trata-se de
um trabalho bastante moroso. É depois debulhado com o auxílio de pequenas
máquinas. Em média, 6 pessoas e 1 máquina levam 1 dia para debulhar o
equivalente a 1 ha de cereal. Depois disso, há que secar o arroz e retirar-lhe
a casca através de um processo mecânico.
Um hectare produz entre 50 a 60 sacos de 100kg de arroz. Nem
todos têm possibilidade de terem máquinas próprias devido ao elevado preço (900
dólares), pelo que é frequente alugar-se uma ao preço de 4 sacos de arroz de
100 kg por dia.
Por vezes, o governo compra-o para vender noutras regiões.
Mas, quando isso não acontece, como em 2012, fica para consumo próprio o que
desagrada aos agricultores que vêem na produção do arroz um meio de
sobrevivência. Este ano, o governo compra-o ao preço de 50 dólares o saco de
100kg. “ Povo cuda, governo sosa”, ou seja, “O povo cultiva e o governo compra”.
Eu acrescentaria “ Só às vezes”.
Em locais onde a água do canal abunda e não está sujeita à inconstância
das chuvas, é possível fazer uma segunda época de cultivo do arroz que se
inicia em maio e termina em setembro.