segunda-feira, 27 de maio de 2013


Os arrozais

Maliana é a terceira cidade de Timor-Leste, capital do distrito de Bobonaro, (um dos 13 distritos administrativos) e com uma população de 25 234 habitantes segundo o Censos de 2010 (em 6 anos teve um crescimento superior a 3000 habitantes).

 Fica localizada na parte ocidental do país, junto à fronteira com a Indonésia a cerca de 150 Km da capital, Díli.

 Rodeada de montanhas, os picos mais altos estão permanentemente cobertos por espessas nuvens que anunciam a chuva que alimenta as nascentes das várias ribeiras das quais depende a actividade agrícola da população (arrozais e hortas). É na água dos canais que serpenteiam a cidade que as pessoas lavam a roupa, se refrescam e onde inúmeras crianças tomam banho ou aprendem a nadar. É também esta água que serve para abastecer os pequenos lagos de patos e nenúfares.

 A elevada pluviosidade dá ao distrito de Bobonaro o segundo lugar na produção de arroz e o quarto na produção de vegetais. Com tanta água estagnada, não podemos esquecer o problema dos mosquitos e das doenças a eles associados (malária e dengue, principalmente).

Quando aqui cheguei, a plantação do arroz estava na fase inicial. No início de fevereiro, procede-se à sementeira do arroz em tabuleiros, onde permanece durante 25 dias, aproximadamente, até ter uma altura capaz de ser transplantado. No final do mês, os pés de arroz são plantados manualmente na terra alagada, trabalho executado essencialmente por mulheres e crianças de 11 ou 12 anos por serem mais rápidas e ágeis. Este trabalho é pago a 5 dólares por dia para os adultos e 3 dólares para as crianças que fazem esta tarefa após a escola. Durante cerca de 90 dias, o cereal cresce tendo apenas água e alguns pesticidas para combater pragas. Aos poucos, o verde uniforme do arroz em crescimento dá lugar a outros tons de verde e amarelo conforme o estádio de crescimento e maturação em que se encontra. Este ano, a colheita do arroz encontra-se ameaçada pelo excesso de chuva. Desde que esteja seco, procede-se à ceifa manual do cereal  (25 pessoas ceifam  cerca de 1ha de terreno numa jornada diária que começa às 6 h da manhã e pode terminar às 18h). Trata-se de um trabalho bastante moroso. É depois debulhado com o auxílio de pequenas máquinas. Em média, 6 pessoas e 1 máquina levam 1 dia para debulhar o equivalente a 1 ha de cereal. Depois disso, há que secar o arroz e retirar-lhe a casca através de um processo mecânico.

Um hectare produz entre 50 a 60 sacos de 100kg de arroz. Nem todos têm possibilidade de terem máquinas próprias devido ao elevado preço (900 dólares), pelo que é frequente alugar-se uma ao preço de 4 sacos de arroz de 100 kg por dia.

Por vezes, o governo compra-o para vender noutras regiões. Mas, quando isso não acontece, como em 2012, fica para consumo próprio o que desagrada aos agricultores que vêem na produção do arroz um meio de sobrevivência. Este ano, o governo compra-o ao preço de 50 dólares o saco de 100kg. “ Povo cuda, governo sosa”, ou seja, “O povo cultiva e o governo compra”. Eu acrescentaria “ Só às vezes”.

Em locais onde a água do canal abunda e não está sujeita à inconstância das chuvas, é possível fazer uma segunda época de cultivo do arroz que se inicia em maio e termina em setembro.



 

 

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013


Timor-Leste

Timor Leste fica localizado na parte oriental da ilha de Timor com um pequeno enclave na parte ocidental – o distrito de Oecussi. O ponto mais alto do país é o Monte Ramelau com 2 960 m de altura.

Segundo o Census de 2010, Timor-Leste tinha 1 066 409 pessoas correspondendo a 51% de indivíduos do sexo masculino e 49% de indivíduos do sexo feminino com uma densidade populacional de 71 hab./km2.  A taxa anual de crescimento populacional tem-se situado entre 2005 e 2009 nos 3 pontos percentuais com um ligeiro decréscimo em 2010 que registou o valor de 2,7%. Em 6 anos, a população teve um crescimento de cerca de 8,7%.

Distribuição da população por faixa etária:
 
Faixa etária
0-4
5-9
10-14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70-74
+75
% de pessoas
14,4%
14,4%
12,7%
10,9%
8,9%
7,2%
4,9%
5,4%
4,5%
3,6%
2,8%
2%
3,5%
2,1%
1,2%
1,4%


Faixa etária
0-14 anos
15-64 anos
+ 65 anos
% de pessoas
41,4%
53,9%
4,7%

 Como se pode ver, trata-se de um país muito jovem em que a média de idade ronda os 18,8 anos. Cada mãe tem cerca de 5,9 filhos nos meios rurais e 4,9 filhos nos meios urbanos. A taxa de mortalidade infantil (nº de óbitos de crianças com menos de 1 ano de idade) tem vindo a baixar. Mesmo assim, ainda morrem cerca de 45 crianças  por cada 1000 nascimentos. A taxa de mortalidade de menores abaixo dos 5 anos de idade situa-se nos 64 por 1000 habitantes. A esperança média de vida era, em 2009, de 60,6 anos de idade, valor que tem vindo a subir ligeiramente desde 2005. A taxa bruta de natalidade (número de nascimentos por cada 1000 habitantes) tem descido ligeiramente desde 2005, situando-se em 40,3 em 2009. A taxa bruta de mortalidade (número de mortos por cada 1000 habitantes) tem também diminuído e em 2009 situava-se em 11 pontos.

Em termos de educação e de acordo com a Lei de Bases da Educação de 2008, ficou assim estipulada a duração de cada um dos ciclos de estudos:

1º ciclo – 4 anos

2º ciclo – 2 anos

3º ciclo – 3 anos

Ensino secundário – 3 anos

A taxa líquida de matrícula no 1º ciclo (relação existente entre o número de crianças em idade normal de frequência e o número de crianças em idade normal de frequentar a escola) era de 70,6% ao contrário do ano lectivo anterior que era de 83% o que pressupõe um aumento da taxa de abandono escolar, o que na verdade se veio a verificar. Em 2006/2007, o abandono escolar situava-se em 4% e no ano seguinte, esse valor atingiu os 10% sendo mais elevado em relação aos rapazes que em relação às raparigas.

Em Timor, 7,5% dos alunos frequentam o ensino pré-escolar e 48,8%  o 1º ciclo. Os restantes distribuem-se pelos outros ciclos, ensino secundário, politécnico e universitário.

Segundo os dados do Censos de 2010, os problemas respiratórios estão no topo das doenças de declaração obrigatória, seguidas da malária e das diarreias aquosas agudas e pneumonias. O número de médicos e enfermeiros tem vindo a aumentar de ano para ano. Em 2010 havia 2,7 médicos e 8,1 enfermeiros por cada mil habitantes. Existem protocolos com o governo de Cuba para a prestação de cuidados médicos nos hospitais de Referência.

O número de pessoas inválidas e idosos a receber subsídios do estado teve um aumento de quase 44% de 2009 para 2010. No mesmo período, verificou-se um aumento de 125% no número de indivíduos a receber pensão por serem antigos combatentes ou serem beneficiários dos mártires da nação (4038 em 2009 e 9091 em 2010).

O número de pessoas à procura de emprego tem sofrido ao longo dos anos um decréscimo. Isto não significa que haja pleno emprego mas apenas que o número de registos nos centros de emprego tem vindo a baixar.

Nas prisões timorenses, havia em 2010 apenas um total de 122 reclusos.

Tem duas estações do ano: a estação da seca e a estação das chuvas. A temperatura média mensal situa-se nos 29,5 graus Celsius (mais ou menos estável) e a precipitação ronda em média os 242,2 mm, valor que tem vindo a baixar desde 2005. Este ano parece terá sido um ano anormal de chuvas que se prolongaram por mais tempo que habitualmente. A estação da seca, parece ter durado umas 3 semanas, uma vez que recomeçou a chover em força há dias.

A maior parte da população dedica-se à agricultura sendo que os principais produtos são por ordem decrescente de importância, o milho, o arroz, a mandioca e os vegetais. A população de Maliana dedica-se principalmente à produção de arroz.

No que diz respeito à pecuária, o maior número de espécies animais é da galinha seguida do porco, da vaca, da cabra, do búfalo, do cavalo e da ovelha.

A produção e o consumo de energia eléctrica tem vindo a aumentar consideravelmente mas a população ainda recorre muito à queima de madeira para cozinhar.

A subscrição da internet teve, de 2008 para 2009, um crescimento de 118%.

Em 2010, havia em todo o país 18 hotéis com 869 quartos mas o número de hóspedes tem aumentado.

As importações superam em muito as exportações. Exportam principalmente café para os EUA e os seus principais fornecedores de bens e matérias-primas são a Indonésia e a Austrália.

Cerca de 97% da população é católica sendo que os restantes 3% pertencem aos protestantes/evangélicos, muçulmanos, budistas, hindus, animistas, etc.

Do total de habitantes, quase 30% vivem em zonas urbanas e os restantes 70% em zonas rurais. Cerca de 99% da população residente tem nacionalidade timorense e os restantes são indonésios, chineses, australianos e outras.

 

Nota: A informação aqui contida não deve servir de base a qualquer trabalho. Esta crónica serve apenas para fornecer dados e não para fazer qualquer análise económica, demográfica ou qualquer outra que seja.

 Fontes:

-Dados do Censos 2010

- “Timor-Leste em números”, 2010, Direcção Nacional de Estatística

 

 

quinta-feira, 9 de maio de 2013


O casamento

Há dias realizou-se um casamento para o qual fomos convidados. Não conhecíamos os noivos mas os pais dela vivem perto da escola e fizeram questão que estivéssemos presentes.

A cerimónia religiosa do casamento foi às 10h da manhã na igreja seguida de um banquete. Antes da hora marcada cheguei à igreja onde a noiva com um vestido branco comprido e um véu até aos pés já esperava o noivo acompanhada da menina das alianças. Após os cumprimentos e votos de felicidade instalámo-nos num dos vários bancos livres existentes. Não demorou muito tempo para que fossemos convidados a ir para um dos bancos da frente onde poderíamos  apreciar melhor toda a cerimónia.

Talvez devido ao nervosismo próprio de quem vai contrair matrimónio, a noiva andava para cá e para lá, ora dentro ora fora da casa paroquial que se situa no extremo da igreja umas vezes com e outras sem o noivo (parece que aqui não há a tradição de ser o noivo o primeiro a chegar à igreja e não há qualquer azar se ele a vir antes da cerimónia). Durante estes momentos de espera, um coro de rapazes e raparigas ensaiava as canções que iriam acompanhar toda a celebração. Não começou a horas como todo o casamento que se preze. 

Entretanto, já o noivo estava lá à frente esperando pela noiva que surgiu, logo depois,  de braço dado com o pai. Sentados em duas cadeiras previamente cobertas por dois tais em tons de preto e rosa, deu-se início à missa que foi celebrada por um padre coadjuvado por mais 4 e acompanhada por um conjunto de vozes incríveis que tornaram mais bela toda a cerimónia.

No final, as pessoas colocaram-se em fila para cumprimentarem o casal e depois de uma breve paragem pela nossa casa (ainda era cedo para almoçar) deslocámo-nos até ao local da receção onde iria ser servido o almoço ao ar livre. Logo que chegámos, assinámos o livro de receção, entregámos a prenda conjunta e recebemos uma pequena lembrança dos noivos. De seguida, fomos encaminhados para um local privilegiado numas filas de cadeiras situadas de cada um dos lados das 2 mesas corridas mas suficientemente afastadas para dar passagem a quem estava a colocar as travessas de comida nas mesas e onde já tinham sido colocados os pratos com a respectiva colher e palito espetado no guardanapo (aqui não é habitual usar-se garfo e faca).

  Sempre acompanhados por um grupo musical que ia debitando o seu  vasto repertório, as cadeiras foram sendo ocupadas pelos convidados que iam chegando aos poucos. Assim que os noivos chegaram, e depois de breves palavras por parte do senhor padre e de outra pessoa, procedeu-se à abertura de várias garrafas de espumante (por sinal “Raposeira”) que serviu apenas para festejar agitando e molhando os presentes. Não serviu para beber até porque estava à temperatura ambiente que, por sinal, não era baixa.

Enquanto os noivos e respectivos pais e padrinhos se mantinham sentados em lugares de destaque, os convidados começaram a formar filas para pegarem no prato e se servirem do arroz e de vários tipos de carne (frango, vaca, porco, cão), legumes e também, curiosamente, algo muito parecido com bacalhau com natas. Para beber havia sumos, cerveja e água. Servi-me apenas daquilo que conhecia para não ter surpresas. Só quando todos estavam servidos, é que os noivos se dirigiram para as mesas e prepararam o seu prato com o que restava. Parece-me que é tradicional e por uma questão de respeito, dar-se primazia aos convidados.

Depois disto, os noivos foram ao palco onde se beijaram em público e fizeram a sua primeira dança, ao que foram seguidos pelos restantes convidados.

Entretanto, e depois de várias ameaças de chuva, resolvi regressar a casa.

 






 

Onde fica Maliana?

Maliana é a terceira cidade de Timor-Leste, capital do distrito de Bobonaro, (um dos 13 distritos administrativos) e com uma população de 25 234 habitantes segundo o Censos de 2010.
Fica situada bem próximo do território indonésio a 150 km de distância mas a várias horas da capital e, para quem estiver interessado, as coordenadas do local por mim mais frequentado, são, salvo erro, estas:

Mercado- 8 graus, 59 minutos 22,91 segundos  S 
                  125 graus, 13 minutos e 13,74 segundos  E
                 com uma elevação de cerca de 250 metros.
 Em breve, farei uma “crónica” sobre Timor com base no último censos de 2010. 
 Vamos ver se consigo fazer alguma coisa de jeito!

domingo, 5 de maio de 2013


Mais uma aula de Tétum

Durante a ocupação indonésia, os timorenses foram proibidos de utilizarem a língua portuguesa. É também por essa razão que a maioria das pessoas não sabe português dificultando a comunicação entre nós. De vez em quando, aparece uma ou outra pessoa que ainda se lembra do que aprendeu na escola quando Timor era uma colónia portuguesa.  No mercado, a maioria das pessoas não nos compreende mas gosta de dizer as expressões “obrigadu”  e “de nada” no final das compras.

Eis algumas palavras e expressões:

No mercado:
Basar / merkado-mercado
Osan-dinheiro
Ai-árvore
Aidila-papaia
Aifarina-mandioca
Aiata-anona
Haas-manga
Sabraka-laranja
Sabraka ben-sumo de laranja
Derok sin-lima, limão
Lis-cebola
Ailia-alho
Repollu-repolho
Lakeru-abóbora
Aimanas-piripiri
Mantega-manteiga
Ben-líquido
Be-água
Susu been-leite
Manu tolun-ovo
Ikan-peixe
Ham-carne
Tonkol-atum
Aifuan-fruta
Aihan-alimento
Lakeru mutin-chuchu
Batar-milho
Batar nurak-milho verde
Batar uut-farinha de milho
Farina-farinha
Fehuk-batata doce
Fehuk ropa-batata
Etu-arroz cozido
Fos- arroz cru
Modo ben-caldo de legumes
 

 

As cores:
Metan-preto
Mean-vermelho
Mutin-branco
Matak-verde
Matak nurak-verde claro
Matak tuan-verde escuro
Azul-azul
Kastaño-castanho
Roxu-roxo
Roza-cor-de-rosa
Laranja-cor de laranja
Sinzentu-cinzento
Kinur-amarelo

 

Os animais:
Balada-animal
Balada fuik-animal selvagem
Balada hakiak- animal doméstico
Balada maus-animal manso
Bibi (aman)-cabra
Bibi inan-bode
Bibi malae-ovelha
Bibi malae inan-carneiro
Busa-gato (independentemente do género)
Busa aman-gato
Busa ina-gata
Busa oan-gatinho
Asu-cão (independentemente do género)
Asu aman-cão
Asu ina-cadela
Asu oan-cachorro
Lafaek-crocodilo
Laho-rato
Manu-galo
Harimau-tigre
Manu fuik-pássaro
Licarauh-macaco
Karau-vaca
Karau Timor-búfalo
Ikan-peixe
Kuda-cavalo
Manorade-pato
Faki-porco
Lenuk-tartaruga
Elefante-elefante
Babebar-borboleta
Sipu caracol
Bani-abelha
Mandoco-sapo

 
Expressões  usadas:
Ha´u la gosta.  Eu não gosto.
Ha´u hakarak sosa. Eu quero comprar.
Kurun liu. Muito caro

 
 
Ha´u ham laha los. Eu tenho muita fome.
Ha´u la ham laha los. Eu não tenho muita fome
Haú la kohi sosa tamba karu liu- Eu não quero comprar porque é muito caro.

Por hoje é tudo. Na próxima oportunidade, vamos a mais expressões.


Publicidade à TT

Alerta em relação aos crocodilos (em Díli)



Nos caixotes do lixo, recentemente colocados

Povo cultiva e governo compra (em relação ao arroz)
 

quarta-feira, 1 de maio de 2013


Acordar em Maliana

Ao fim de cerca de 3 meses e meio em terras de Timor Lorosae, já deu para perceber que os nossos ritmos de trabalho são diferentes.

Nos dias de trabalho, costumo acordar cerca das 6h 30m da manhã ao som do despertador do telemóvel e deitar-me por volta das 23h 30m. Durmo cerca de uma hora a menos do que em Portugal e, por vezes, sinto falta de ter mais descanso. Mas nem sempre é possível porque nos fins de semana ou nos feriados, em que poderia descansar mais, os meus “despertadores” naturais impedem-me que o faça.

 Passo a explicar:

- tal como as pessoas, aqui também os animais acordam cedo ou, pior ainda, parece que têm os sonos trocados. Neste momento, por ex. são 7h da manhã do dia 1 de maio de 2013 e já estou acordada desde as 6 horas.

E porquê?

 Isso deve-se a vários fatores e passo a enunciá-los sem qualquer preocupação de o fazer por ordem de grandeza:

1-os timorenses gostam de ouvir música alta e, logo cedo, chega aos meus ouvidos uma mescla de sons dos quais consigo apenas distinguir um contínuo “pum-pum-pum” das batidas;

2-os galos e as galinhas não acordam com o nascer do sol nem quando põem ovos. Parece que a qualquer hora do dia ou da noite é hora de soltarem as vozes e porem-se a entoar cânticos para verem qual é aquele que se consegue ouvir mais alto ou, quiçá, para ganhar um qualquer concurso de canto lírico.

3-os porcos, mais ao entardecer do que ao amanhecer, é ouvi-los grunhir alto e bom som, por alguma razão com certeza.

4-os pássaros. Ai os pássaros! Esses malditos que instalam os seus ninhos no espaço que medeia o telhado de zinco e o forro que o separa do meu quarto e bem cedo cantam, cantam e cantam e que acompanhados dos sons dos seus passinhos na madeira fazem perder o sono e a paciência a qualquer santo da terra. E eu não sou santa!

Há dias, tivemos a visita madrugadora de umas freiras que, logo que o seu convento esteja pronto, irão viver em reclusão (é preciso ter coragem!) se queixavam do excessivo barulho destes animais de palmo e meio mas que valem por gigantes.

5- os cães. Principalmente durante a noite, há dias em que mais apetece mandar vir o serviço de recolha para os levarem até ao canil. Estou a ironizar, claro. Acho que aqui nem há canis!

6-desculpem-me os católicos mas isto de às 6h ou 6h 30m irem para a igreja e cantarem, cantarem, cantarem até me cansarem os ouvidos, é dose. Cantam admiravelmente bem mas todos os dias… é demais!

7-os barulhos que durante a noite são perfeitamente audíveis e se devem, penso eu, à reacção dos materiais de construção, nomeadamente, a do metal de que são feitas as construções, à amplitude térmica que se verifica entre o dia e a noite.

8-não poderia terminar esta crónica sem me culpabilizar também. Por vezes, poderia dormir mais um pouco mas quando começo a pensar no que tenho de fazer, tenho de me levantar e fazê-lo. É o caso de hoje. Teria eu alguma necessidade de me pôr a escrever estas palavras a esta hora do dia? Claro que não mas eu sou assim, um pouco ansiosa e assim morrerei um dia.

 Podem dizer-me: há tampões para os ouvidos e vendas para os olhos. Pois há mas não dão jeito nenhum.

O povo de Timor levanta-se cedo, o calor que se sente durante o dia assim o exige. Mas também se recolhe cedo. Quero crer que é por isso que se veem muitas pessoas durante o dia a descansar à sombra das suas casas e não por outro motivo qualquer.